Carvalho admite conflitos de interesses com trabalho no Inter e futebol
Alexandre Praetzel
O Inter pode ser rebaixado para Série B do Brasileiro, pela primeira vez na história. O time gaúcho é o 17º colocado com 38 pontos e luta contra Vitória, Coritiba e Sport, faltando 12 pontos a disputar. O blog conversou com o ex-presidente Fernando Carvalho, o maior dirigente de todos os tempos do Inter, segundo vários sócios e torcedores colorados. Carvalho viveu situação parecida e difícil em 2002, quando o Inter escapou na última rodada, após vitória sobre o Paysandu, em Belém, e contando com uma combinação de resultados de outros adversários. Voltou ao Inter, mesmo trabalhando com um Fundo de Investimentos no futebol e admitindo conflitos de interesses. Leia abaixo.
Arrependido por ter retornado ao Inter
“Não, não estou arrependido. Só aceitei porque a dificuldade era muito grande e estamos trabalhando para conseguir manter o Clube na primeira divisão, com essa mesma dificuldade. Eu não costumo me arrepender das coisas que faço. Posso depois lamentar alguma coisa que deveria ter feito diferente, algum caminho mal escolhido, mas agora não é hora de pensar nisso”.
Consequências para o Clube e dirigentes com um possível rebaixamento
“Não quero pensar nessa hipótese. Estamos trabalhando para não sermos rebaixados. Já estivemos, em algumas oportunidades anteriores na nossa história, próximos do rebaixamento e conseguimos sair. Eu prefiro imaginar que o Internacional vai sair dessa situação difícil”.
Como acreditar num time que ganhou apenas dez jogos em 34 disputados
“Eu acredito porque vi as partidas que jogamos contra Atlético-MG, Santos, Flamengo e até mesmo contra o Palmeiras, que nós perdemos. A equipe tem bons jogadores que estamos tentando reagrupar, remobilizar e, com isso, tenho certeza que vamos conseguir ter atuações de nível alto, que nos permitam vencer os adversários”.
Soberba da diretoria atrapalhou o Inter
“Não vejo que tenha havido soberba. As pessoas acreditavam naquilo que estavam fazendo. Muitas coisas acabaram não dando certo, mas o que temos que pensar é para a frente, positivamente, em motivar a torcida e fazer o torcedor colorado acreditar, para que a gente consiga sair dessa situação muito difícil. Qualquer outro inventário que a gente deva fazer, fica para depois que terminarmos todo esse episódio”.
Interfere na escalação do time
“Eu nunca interferi na escalação, em relação a qualquer treinador. Acho que o treinador é quem tem que definir as questões da equipe e ao dirigente cabe dar condições ao elenco e à comissão técnica de desempenhar os seus trabalhos”.
Conflitos de interesses como dirigente e trabalhando para um Fundo de Investimentos no futebol
“É um conflito de interesses e a primeira pessoa a destacar isso, fui eu, no dia em que aceitei o convite do presidente Píffero. Entretanto, estamos vivendo um momento atípico, um estado de emergência, e por isso eu concordei e me afastei momentaneamente dos meus compromissos com o Fundo. Seria incompatível eu trabalhar no que faço e seguir no Clube. Não seguirei, em hipótese alguma, depois que terminar essa empreitada para a qual fui convocado pelo clube como um todo, pelo presidente e pelos órgãos da entidade. Repito, é incompatível e fui o primeiro a declarar isso”.
Modelo de gestão está falido no Brasil com amadores
“Os clubes chegaram até aqui, a maioria com mais de 100 anos de atividade, sendo dirigidos por “amadores”. Acho que a vida nos propõe sempre avanços a uma forma de gestão com profissionais e com os “amadores”, principalmente na gestão das questões políticas do clube. Sempre vai ser a melhor forma de administrar um clube de futebol do tamanho do Inter, dos clubes de massa do país. Acho que um caminho importante que nós deveríamos seguir para esses clubes, seria remunerar os dirigentes, prevendo isso no estatuto. Quem está dizendo isso é alguém que não vai mais voltar a trabalhar executivamente, nem vai mais ser candidato à presidência. Acho que, para o futuro de todos os clubes, a profissionalização com os próprios dirigentes seria o melhor caminho”.
Situação financeira do Inter é dramática
“Não. A situação do Inter é difícil, mas não dramática. O Clube tem todas as condições de levar adiante seus projetos e ser competitivo na sequência da sua história”.
Carvalho presidiu o Inter de 2002 a 2006. Nas suas gestões, o Inter conquistou a Libertadores da América, Mundial de Clubes e quatro títulos estaduais. Para escapar do rebaixamento, o Inter ainda enfrentará Ponte Preta e Cruzeiro em casa e Corinthians e Fluminense, fora.