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Luiz Cunha nega veto a Cueva e define Leco como mau presidente
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Alexandre Praetzel

Luiz Cunha, ex-diretor de futebol do São Paulo, concedeu entrevista exclusiva ao blog. O ex-dirigente criticou o presidente Leco, negou que tenha vetado a contratação do peruano Cueva e se mostrou esperançoso para uma mudança de rumo nas gestões futuras do tricolor. Acompanhe abaixo.

Ano do São Paulo

“Referindo-me ao time, defino como um ano para se tirar muitas lições, um ano em que por erros internos, deixamos de alcançar coisas boas que em certos momentos pareceu utopia, mas em outros estava ao nosso alcance, bastava-nos fazer o óbvio”.

São Paulo perdeu espaço para os rivais e deixou de ser referência

“Sim, de há muito, desde o golpe do terceiro mandato que nos rebaixou às piores ações eternizados de gestões dos co-irmãos da capital – quando eles chegaram a visitar a segunda divisão nacional – entregando-nos a um mandato espúrio, indevido, manchador das nossas tradições, por rasgar o Estatuto Social que em cláusula pétrea procurava evitar isto. Foi um ato tão ruim que a partir dali, naufragamos, vivendo apenas de pequenos lampejos”.

Veto à contratação de Cueva

“Não, absolutamente. Expliquei isto nas entrevistas das quais participei logo que deixei a diretoria, cheguei a fazer um paralelo que torceria muito para que o Cueva fosse tão importante para nós, quanto foi Romerito, por exemplo, para o Fluminense, em seu tempo. Voltei a explicar em todas as demais entrevistas que me solicitaram e agradeço a você por poder ratificar no seu Blog, o que se passou:

Assumi a direção de futebol quando o time estava apenas três pontos adiante dos que cairiam no campeonato paulista e, faltando o returno da fase de grupos da Copa Libertadores onde estávamos pessimamente colocados, virtualmente desclassificados para as fases de mata-mata. Vinha de uma gestão muito profícua no futebol de base. Tínhamos uma dívida monstruosa e aparentemente impagável, portanto sem recursos para contratações. Nas reuniões de diretoria era colocado que o objetivo institucional número um seria apertar os cintos e baixar o endividamento. Pensei: dentro de tais parâmetros, vou imitar o GRES Acadêmicos do Salgueiro que em tempos de vacas magras, num de seus enredos dizia: “Tira da cabeça o que no bolso não há”.
Tracei estratégias de relacionamento com o grupo de profissionais do futebol e com os funcionários. Gestão de futebol é basicamente lidar com pessoas, atender seus anseios e expectativas sem se afastar dos objetivos maiores da Instituição. Assegurei-me com o diretor financeiro de que colocaríamos em dia os salários e premiações em atraso e não voltaríamos a deixar de pagar a todos, em dia. Se necessário fosse, dentro das minhas disponibilidades, até colocaria recursos próprios para que isto ocorresse. Chamei os lideres dos jogadores para uma conversa e busquei ouvir deles o porque não rendiam tudo o que podiam. Com isto, tive um diagnóstico e agi, obtendo um sucesso tão grande e breve, quanto inesperado.
Considerando este preâmbulo e estando classificados para a semifinal da Copa Libertadores, o que nos trouxe receitas enormes em bilheterias, cotas da Conmebol e até no marketing, vislumbrando os benefícios de estar na final e até o título, voltei nossos recursos para a permanência do Maicon, coisa que era prioritária, além de renovar o contrato do Paulo Henrique Ganso, jogador reconhecido de rara qualidade e em grande fase. Estas eram ações inclusive, motivadoras dos jogadores em questão e de todo o time. Mas, notei alguns movimentos estranhos a estes objetivos e busquei saber do que se tratava. Estava empenhado com 100% do meu tempo a alcançar o titulo da Libertadores enquanto trabalhava no planejamento de médio e longo prazo. Soube que estavam, o presidente e o superintendente de futebol, armando à minha revelia uma contratação onerosa. Ordenei ao meu imediato que paralisasse tal processo, não que anulasse mas que desse um tempo, até que finalizássemos o planificado, após o que voltaríamos a ver com a diretoria financeira a possibilidade de finalizar aquela contratação.
Ora, a um diretor de futebol não comprometido com as finanças e sobrevida do próprio clube, bastava saber quem era o jogador, se era indicação e pedido do treinador e, sabendo que era bom, como de fato comprova o excelente Christian Cueva (se não houvesse oposição do presidente o que seria sua obrigação), contrata e pronto, mesmo estando o jogador em questão impedido de jogar conosco o primeiro objetivo da ocasião, a Copa Libertadores. Houve quebra de hierarquia, traição e quebra de planejamento financeiro. Isto foi a gota d’água para minha saída. Note: Foi a gota d’água e não o motivo principal”.
Michel Bastos foi um problema
“Para mim e no meu tempo, não. Foi, isto sim, solução. De jogador desmotivado e aberto a propostas para sair, transformou-se depois de uma conversa franca que tivemos, e da gestão próxima do elenco que tive, numa das nossas melhores e mais decisivas armas na campanha da Copa Libertadores”.
Jogadores reclamavam do ambiente político chegando ao vestiário
“Não recebi nenhuma queixa direta nesse sentido. Nem precisava pois era evidente que ambiente politico derramava contratempos no desempenho do time. Pior é que havia gente capaz de, sob uma liderança aberta e parceira, resolver os problemas como aliás, foi feito. Temos gente da melhor qualidade no CT”.
Leco é bom presidente
“Não. Leco é muito boa pessoa. Sério, educado, agradável, pai de família exemplar. Pessoa ideal para se relacionar com amizade. Mas o que fez comigo, traindo minha confiança e dedicação, bem como o desempenho totalmente irregular da equipe sob sua gestão, seus métodos antiquados e centralizadores, faz com que não o defina como um bom presidente para o nosso Clube”.
Modelo ideal para o clube e futebol
“A autonomia de cada setor, o social e o futebol. As receitas oriundas de cada um devem ser dirigidas ao próprio setor gerador. Por que o sócio não torcedor deve sustentar o time, se ele paga mensalidade para custear a sede social que frequenta? Por que o sócio torcedor tem que ter seus pagamentos utilizados na manutenção da sede social, se lhe é proibido frequentar?

Desde o início da internet e das redes sociais como os fóruns de discussão, apregoo que para fidelizar o sócio torcedor, deveríamos dar-lhe poder de voto, não para presidente porque aí ele estaria interferindo na parte administrativa e patrimonial. Mas sim, para a vice presidência de futebol, que comandaria a formação de jogadores e o time profissional, utilizando as receitas oriundas do futebol como: arrecadação dos jogos, patrocínios nos uniformes, cotas de TV e, receitas de cessão de jogadores, entre outras. Por seu lado, o associado elegeria o vice presidente social que nomearia o diretor social e os das diversas áreas e setores da sede, sempre em contato com os sócios para ouvir deles suas aspirações, inclusive de custo da mensalidade, oferecendo em troca tudo o que os sócios puderem custear.
O fato de serem cargos eletivos, os tiraria da ação direta do presidente da diretoria. Eles teriam que prestar contas ao grupo gestor e aos seus eleitores. O presidente teria a precípua atribuição de cuidar do patrimônio, dentre dos limites de suas atribuições, participando também do grupo gestor.
Aguardo com muita ansiedade a redação final do novo estatuto a ser submetida à apreciação e aprovação dos conselheiros e depois, finalmente, dos sócios. Ele deveria ser mais avançado do que parece ser e deveria entrar em vigor no primeiro dia útil de ano que vem, estando sob sua égide a próxima eleição para presidente, em abril próximo”.
Quem vai apoiar na próxima eleição
“Como ainda não há um quadro de candidatos, afirmo que apoiarei alguém comprometido com a modernidade administrativa, com a descentralização do poder e, com a responsabilidade para com o planejamento traçado. Alguém com preparo, preferencialmente com prática e conhecimento de gestão e governança corporativa”.
Rogério Ceni como técnico
“Acho que deve ser técnico. Ele tem declarado desejo de ser treinador (segundo leio) e tem muitas qualidades que o classificam como candidato a um dos melhores. Todavia penso que para ser técnico do SPFC deve galgar alguns degraus pós formação, como: dirigir equipes de base e depois, comprovar qualidade em equipes de menor expressão e exigências tão imediatas quanto são as nossas”.
O São Paulo terá eleição à presidência em abril de 2017. Leco será candidato à reeleição. O novo estatuto será votados nos próximos dias. Luiz Cunha ficou no cargo de diretor de futebol de março a junho deste ano.

 


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