“Corinthians se tornou fonte de renda ilícita para muitos”, diz Tuma Jr.
Alexandre Praetzel
A situação financeira do Corinthians e o futuro da Arena preocupam muitos sócios, conselheiros e torcedores. Romeu Tuma Jr. é um deles. Tornou-se conselheiro do Corinthians em 1990 e virou vitalício, em 2003. É um dos principais opositores da atual gestão corintiana. O ex-Secretário Nacional de Justiça do Governo Federal do PT, advogado e delegado de polícia, disparou contra a atual gestão, bateu forte nos próprios conselheiros e acredita que existam focos de corrupção no clube. Tudo isso e mais um pouco em entrevista exclusiva ao blog. Não deixe de ler, abaixo.
Impeachment de Roberto de Andrade
''Precisamos esperar as investigações que já solicitei na Polícia e as informações que ele deve dar à respeito dos fatos. Não creio que tenha agido só nos episódios dos contratos. Portanto, é necessária uma ação no campo político, onde se dá o impeachment, que abranja todos os envolvidos. Neste sentido, creio que precisamos conhecer toda a extensão dos atos, beneficiários e os porquês''.
Atual gestão
''Uma gestão que tem pago pelas promessas , desmandos e compromissos das anteriores nesse ciclo que se intitulou ''Renovação e Transparência'', onde não tem qualquer mudança de métodos abominados no passado, além de muita obscuridade. Fizeram um discurso para se elegerem, o da continuidade, sem se falar em contenções de gastos, até para não expor os problemas que deveriam conhecer. Hoje vivemos essa situação de um clube sem atrativos e um time sem competitividade e sem investimentos, nem reposições. Aliás, têm contas que foram assumidas e estão sendo pagas, quando o atual presidente era o vice de outra administração. Exemplo maior é o caso Pato''.
Situação e gastos do estádio preocupam
''Preocupam e muito. Aliás, lá atrás, eu já advertia que não acreditava num negócio onde uma Empreiteira bancaria uma obra dessa magnitude, sem ter garantias ou alguma vantagem, investindo seu dinheiro na frente. Não existe isso!! Tudo pelos belos olhos de alguém? Alertei que isso um dia iria estourar e que o clube poderia se ver envolvido em mais um escândalo e ficar sem o Estádio ou com uma dívida impagável. Parece que estamos diante disso agora. Aparecem contratos com assinaturas indevidas, fraudadas, outras feitas às vésperas das eleições. Enfim, coisas extremamente nebulosas que devem gerar consequências muito ruins''.
Andrés Sanchez fez bem ou mal ao clube
''Fez um discurso do bem e agiu de forma contrária ao que parece. Ele se aproveitou de uma situação na qual não teve qualquer protagonismo, muito pelo contrário. Quando do impeachment do Dualib, assumiu como se fosse o pai da criança. Soube se utilizar das amizades que tinha no governo e no PT para supostamente beneficiar o clube, sem medir as consequências. O preço disso está aí. Muito do que seu grupo sempre repugnou nos discursos, eles acabaram repetindo na Administração''.
Há corrupção no Corinthians
''Não tenho dúvida de que o Corinthians se tornou fonte de renda ilícita para muitas pessoas. A própria investigação da Lava-Jato prova isso, além das denúncias de crimes nas categorias de base''.
Futuro difícil pelas dívidas
''Sem dúvida. Há um buraco negro que ninguém consegue mensurar''.
Apoio na próxima eleição em 2018
''Vou avaliar no momento oportuno até porque não se trata só de nomes, mas de modelo de administração e comprometimento com alguns princípios, especialmente a ética e a moralidade''.
Temor da Lava-Jato no clube
''Eu mesmo fiz esse questionamento há muito tempo numa reunião do Conselho, diretamente ao Deputado Andrés e aos demais diretores. Devemos nos preocupar com a Lava-Jato no Corinthians? O Clube será envolvido ainda que moralmente nessa operação? Responderam que não. Eu tinha certeza que sim. Estamos novamente nas páginas policiais. O Corinthians é vítima nessa história. Tem que se livrar dos problemas da Lava-Jato com coragem, especialmente das pessoas e instituições envolvidas, que têm causado danos à imagem do clube e que por ventura romperam cláusulas contratuais. Elas que paguem a conta, não o clube, que é vítima''.
Conselheiros foram omissos na proposta do estádio
''Sempre me posicionei contra essas parcerias nebulosas. Os conselheiros do clube, muitas vezes, agem com paixão e sob influência dos dirigentes que nos acusam de ''oposicionistas'' para desviar e minimizar as críticas e esconderem a realidade. Além do que, raríssimas vezes o Conselho recebe as devidas informações sobre o que de fato vai decidir. Assim também ocorre com o CORI. Isso influencia e facilita para que a Diretoria faça suas vontades sem qualquer transparência e induza alguns conselheiros de boa-fé ao erro, forçando-os a votar com a emoção. Mas ainda assim, o Conselho é uma instância institucional do clube e tem suas responsabilidades estatutárias. O conselheiro precisa entender isso''.
Idéias para o clube, no geral
''Uma efetiva renovação nas práticas de administração e nos conceitos do que é oposição e situação. O clube encontra-se numa situação que precisa efetivamente de pessoas com muita competência e disposição para torná-lo grande e viável novamente. É um enorme desafio conseguir administrá-lo sem compadrios e sem barganhas políticas com quadros desqualificados. Estamos falando do Corinthians, não de um clube de bocha do interior. O Corinthians tem sido administrado como uma agremiação político-partidária, para uso de pessoas e de grupos. Isso precisa acabar''.
Corinthians está perdendo espaço para os rivais
''Sem dúvida''.
Naming Rights virou utopia
''Não acho que seja utopia, mas hoje quem vai expor sua marca num estádio caindo aos pedaços ou ao menos que ninguém conheça a situação de fato e de direito? Quem vai expor sua marca num estádio à beira de uma operação Lava-Jato, discutindo sua construção? É preciso limpar a área, reestabelecer a credibilidade, a transparência e aí sim, se buscar atrair interessados em se associar com nossa marca, que é uma das maiores e melhores do Mundo''.
Em 2013, Romeu Tuma Jr. escreveu o livro ''Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado'', em que denuncia o que ele considera como aparelhamento do governo pelo PT para cometer crimes, em especial pedidos heterodoxos feitos a ele quando Secretário no Ministério da Justiça e que Lula teria sido informante do governo militar, em 1980.