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Wallace diz ser criticado por expor opiniões e teme extremismos à la Trump
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Alexandre Praetzel

Wallace Reis é jogador de futebol profissional, mas não esquece de suas posições políticas. Bem articulado, o zagueiro tem opiniões formadas sobre o assunto e gosta de dividí-las, apesar de achar que existe preconceito com o atleta esportivo. Em entrevista exclusiva ao blog, Wallace revelou alguns pensamentos, falou sobre o fim do Bom Senso e os motivos que o levaram a deixar o Flamengo, antes de se transferir para o Grêmio. Leia abaixo.

Eleição de Donald Trump

“Olha, eu acompanhei muito pouco. Me desliguei um pouco de política nesses últimos quatro, cinco meses, porque eu estava me desgastando muito em relação a isso. Acabei deixando um pouco. Deixei de acompanhar tudo sobre a Lava-Jato, no cenário nacional político. Nas pesquisas estavam dizendo que a Hilary iria ganhar com uma margem pequena de dois ou três por cento na pontuação e acabou que no final, virou. Acho que isso é muito reflexo da população americana que está desacreditada nos políticos convencionais, tanto lá como aqui. Porque aqui a gente também vai vendo alguns Trumps se formando. O Bolsonaro está aí, ganhando força porque a população está um pouco desacreditada desse conservadorismo ou desse lado um tanto corrupto que nossa sociedade política tenha se embrenhado. A gente lamenta. Fico triste porque radicalismo demais nunca é bom e o Trump é um cara bem radical, pelo menos nas colocações dele. Em algumas entrevistas que eu vi, é um cara extremista demais e toda extremidade leva a ter algumas posições errôneas”.

Posicionamento político é combatido no futebol

“O futebol é natural que você crie uma certa barreira. É incômodo para todos os setores quando alguém destoa um pouco. Isso é natural para a sociedade, quando você tenta colocar suas posições. Eu sofri um pouco por isso. Fui criticado por isso. Acabou que minha família acaba sofrendo também e a gente acaba tentando se privar um pouco de certos posicionamentos, certos pensamentos ou ideologias que eu penso em relação à política, futebol, todo o contexto não só nas quatro linhas. Acho que a gente tem que passar por um processo de maturação, mas isso vai demorar para a aceitação. Costumo dizer que o jogador de futebol não é aceito, é tolerado, né. Então, enquanto você está jogando, você é tolerado. Quando você para, você passa a ser civil e já não tem mais, sua voz não é ativa. Eu não quero ser um cara que não tenha voz ativa, não como um jogador de futebol, mas como um agente da sociedade. O fato de eu ter me posicionado foi exatamente por isso. Eu ser uma referência para os meus filhos, meus amigos, meus pais que me educaram. Infelizmente, o futebol não está acostumado a lidar com isso. A gente ainda tem uma mente um tanto arcaica em relação a posicionamentos. Nosso país ainda, infelizmente, tem um conceito de que jogador de futebol é feito só para jogar. Eu acho que o atleta de futebol tinha muito mais coisas para se fazer, até porque, se você fosse perguntar para qualquer pessoa quem é o camisa dez da seleção, todo mundo vai te dizer. Se você perguntar quem é o presidente da Câmara dos Deputados e Senado, ninguém vai te falar. Ou de cada dez, dois vão te responder. O que é o segundo cargo mais importante do país. Então, a gente ainda priva para as coisas menos importantes, sendo as mais importantes”.

Fim do Bom Senso surpreendeu

“Não. Acho que o Bom Senso seguiu uma linha contrária ao que eu pensava. O Bom Senso acabou porque, a partir do momento que você não faz novas lideranças e entra muito somente na parte jurídica e os caras que têm que defender não se posicionam e não tomam à frente, isso vai perdendo força. É a coisa mais natural. Bom Senso ganhou força quando tinha Dida, Paulo André, Alex, esses jogadores. A partir do momento que esses jogadores foram parando, novas lideranças não surgiram, outros jogadores não se interessaram, até porque jogador de futebol é muito acomodado e isso é natural porque nós viemos da margem da sociedade. É educacional. Entendo isso. Infelizmente, a gente não pegou o timing da coisa. Coisa que na NBA, NFL, existe. O americano tem mais esse conceito, mais empreendedor da coisa. A gente teve a grande oportunidade e deixou passar. Agora, futebol vai continuar pragmático, estagnado, como vem ao longo desses 30 0u 40 anos no futebol brasileiro e a gente torce para que surjam novas lideranças”.

Saída do Flamengo

“O real motivo foi que eu…Aí entra mais essa questão. Não querendo me vangloriar, nada disso. Não sou narcisista nesse ponto. Mas eu sempre me posicionei. Nunca me escondi no Flamengo. O grande problema talvez tenha sido isso. O torcedor e a imprensa gostam de quem se esconde. Eu não me escondia. O time perdia, eu falava. O time ganhava, eu falava. Defendia meu ponto de vista. Muitas vezes contrário até da imprensa ou muitas vezes a favor da imprensa ou às vezes contra o elenco. Então, você vai criando uma certa barreira. Pelo fato de eu ser flamenguista, deixei aflorar demais o meu lado torcedor. Sentia muito todas as coisas que aconteciam no Flamengo e na hora que tinha que bater, eu acabava apanhando em proporções. Claro, no momento que tinha que ser criticado, entendo que a crítica vai ser feita até pelo cargo de capitão que eu exercia. Exercia um cargo de capitão no Flamengo porque eu sempre me posicionei como capitão. Não que eu quisesse, mas isso é da minha personalidade por onde eu tenha passado. Por isso, você acaba sendo alvo. No último ano que o Flamengo passou por crise, talvez eu tenha dado mais de 52 coletivas, onde outros jogadores não iam e outras pessoas do clube. Não faço crítica, nada. Cada um tem o seu posicionamento, mas o fato de você estar sempre aparecendo, te dá margem para apanhar mais. Nunca fui de me esconder e acabou que fui sofrendo. O torcedor tem uma análise um pouco passional, que é natural. A partir do momento que vocês da imprensa começam a criticar, o torcedor vai junto. Isso é normal, entendo e tenho maturidade suficiente para lidar com isso. E aí, o negócio foi virando uma bola de neve. Chegou o momento que minha família não tinha mais paz para morar no Rio. Questão de ameaças. Eu também não tinha mais uma vida social para poder levar meus filhos na escola e voltar. Então, já estava me atrapalhando. Modéstia à parte, estava jogando razoavelmente bem, sempre regular no Flamengo, como eu fui ao longo dos quatro anos. Até porque o próprio Muricy teve para me tirar do time inúmeras vezes, mas não tirou porque eu estava fazendo o que tinha que ser feito. Agora, infelizmente, a análise é por empatia. O lado da empatia pesa muito. Eu não sou um cara que você vai olhar e você vai sentir uma empatia automática por mim porque eu sou um cara sisudo, aparentemente. Isso é natural no futebol. Então, eu sempre tive que lidar com isso. Não é de agora. Desde quando eu surgi no futebol na base, fui assim. Não dar amém para tudo. Acaba que você vai criando umas certas restrições e vai desgastando com uma coisa, com outra. Mas fico feliz. Fiz uma história muito bonita no Flamengo, por onde eu passei, graças a Deus. Eu tenho 12 títulos na minha carreira. Ganhei título nacional no Flamengo. Fui referência do clube. Referência do time. Com os jogadores, eu era muito bem quisto, até hoje. Fiz amigos e mais do que qualquer coisa, saí de lá sendo homem. Agora, tive que tomar uma posição porque o clube e a gente não estava entrando num consenso de idéias e acabei optando por sair, já que o clube não me protegeu da forma que eu achava que deveria. Sou muito grato ao Flamengo por tudo que me proporcionou. Ao próprio Bandeira, ao Walim que foi o cara que me abriu as portas no Flamengo. Realizei o sonho de jogar no Flamengo. Eu tinha 11 anos e eu cansava de falar isso. Meu sonho é jogar no Flamengo. Por mais que eu tenha passado momentos difíceis, tive inúmeros momentos felizes. Então, foi uma coisa marcante na minha vida. Foi a realização de um sonho de menino. Por mais que a gente tenha esse discurso politicamente correto, eu não tenho esse perfil. Foi mágico eu ter passado esses quatro anos no Flamengo. Saber que eu vi o Flamengo ser campeão carioca em 2011 e falei: cara, um dia eu vou vestir essa camisa e vou honrar meus avós que são flamenguistas e eu consegui isso. Para mim, não tem maior alegria que isso”.

Wallace começou no Vitória e passou pelo Corinthians, antes de chegar ao Flamengo. No Grêmio, foi contratado nesta temporada. Não está disputando as finais da Copa do Brasil porque já tinha atuado no torneio, vestindo a camisa rubro-negra.


Betão é destaque do Avaí, lembra de Tevez e critica o futebol brasileiro
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Alexandre Praetzel

O Avaí pode confirmar o acesso à Série A do Brasileiro, neste sábado, contra o Londrina. Uma vitória garante a vaga. Um empate, vai depender de um tropeço do Náutico diante do rebaixado Tupi-MG. Um dos destaques do time é o zagueiro Betão, com 33 anos. Ex-Corinthians e Santos e com passagens pelo futebol europeu, Betão conversou com o blog com exclusividade e falou sobre a disparada do Avaí, futebol brasileiro e Corinthians. Leia abaixo.

Arrancada do Avaí rumo ao acesso

“Não consigo definir uma razão. A filosofia de trabalho e a forma de relacionamento do treinador Claudinei Oliveira com todos. A rápida aceitação e o comportamento dos atletas. Não temos nenhum tipo de vaidade no grupo e isso fez com que todos se entregassem a nossa missão”.

Avaliação da Série B

“É a primeira vez que disputo a Série B no Brasil. Para ser bem sincero e por aquilo que sempre ouvi dizer, esperava mais dificuldades. É verdade que os jogos são menos previsíveis em termos de resultados, porém, o nível técnico deixa um pouco a desejar”.

Futebol brasileiro atrasado em relação ao europeu

“Infelizmente, sim. Em todos os sentidos, em campo e fora dele. Se fosse enumerar, não teria espaço para essa matéria. Por exemplo, em campo, o comportamento dos atletas, arbitragem de baixo nível. Fora de campo, forma de gestão dos clubes, organização do calendário, clubes totalmente endividados, parte da imprensa deixando de noticiar para viver de “fofocas”. Estamos muito atrasados”.

Passagem pelo Corinthians durante a MSI

“Foi um momento difícil, pois gerou uma tensão desnecessária para o clube. Gerou uma pressão a mais do habitual no Corinthians, que já não é pouca. Criou-se uma crise política, uma divisão de idéias e pensamentos na diretoria e muitos queriam trazer essa divisão entre os jogadores, mas no meu ponto de vista, essa divisão em campo nunca ocorreu. Existia uma diferença salarial grande, mas isso não gerou “racha” no grupo”.

Corinthians novamente nas páginas policiais

“Acredito que o Corinthians é a marca esportiva da América do Sul e não vejo necessidade de passar por situações constrangedoras como essas. Vivi lá dentro por 14 anos de minha vida e sempre foi da mesma maneira. São muitas opiniões e a maior parte das decisões são tomadas pela emoção. O Corinthians é muito grande e não precisa passar por isso”.

Relação próxima com Tevez

“Ele era muito tranquilo. Para nós jogadores, era fácil e prazeroso trabalhar com ele, pois ele é um cara de grupo que trabalha pelos interesses comuns, batalha pelos menos favorecidos e ajuda muito dentro e fora de campo. Porém, com os diretores e imprensa foram relacionamentos difíceis porque além de extrovertido, ele tinha suas opiniões formadas e isso dificultava esse relacionamento. Todos nós sabemos que a vinda do Tevez ao Corinthians, foi um jogo de marketing e investimento para os envolvidos. Ele viria, atrairia os olhares dos torcedores, imprensa e patrocinadores para o clube, chamaria a atenção de grande europeus e pronto. Mas acredito que a intenção era ele permanecer mais tempo no clube. Creio que a saída dele aconteceu pelo desgaste da situação política e até mesmo com parte da torcida”.

Tevez voltaria ao Corinthians

“Conversei com ele algumas vezes, enquanto estávamos na Europa e seria muito improvável a volta dele. Estava muito bem por lá, foi destaque onde passou. Não posso afirmar, mas nesse momento acredito que seja improvável a volta dele”.

Planos para 2017

“Tenho contrato com o Avaí até o final do campeonato estadual. Como sempre, nessa época do ano sempre existem sondagens de outros clubes, empresários. Como meu contrato é curto aqui no Avaí, não tem como afirmar nada nesse momento. Mas espero continuar nesse bom momento, com boas atuações, onde quer que eu esteja”.

Surgimento do Bom Senso

“Quando surgiu a idéia, fiquei muito empolgado, motivado e cheguei a acreditar que seria um marco para as mudanças que o esporte necessita até hoje. Fiz parte, de maneira bem discreta, tentei ajudar, mas nós jogadores somos muito desunidos. A maioria se preocupa somente com aquilo em que pode ser afetado diretamente. Infelizmente, muitos são mal informados, outros não se interessam e o o movimento acabou perdendo forças. Sem contar com a forte oposição que enfrentou, onde muitos que perderiam seus privilégios se colocaram contrários ao movimento. Em algumas questões, foi ouvido e até atendido. Mas com tristeza, recebemos a notícia do fim do Bom Senso. Quem sabe as próximas gerações se interessem em buscar seus direitos e melhorias para o futebol”.

Betão fez 214 jogos pelo Corinthians de 2001 a 2007 e foi campeão brasileiro em 2005. Atuou no Dínamo de Kiev da Ucrânia de 2008 a 2015. Ainda passou pela Ponte Preta e pelo Evian da França.

 

 


Paulo André esclarece fim do Bom Senso e vê modelo brasileiro esgotado
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Alexandre Praetzel

Paulo André foi um dos mentores do Bom Senso, movimento que pretendia mudanças no calendário, gestão e direitos no futebol brasileiro. Foi elogiado por vários profissionais e pela mídia, mas encontrou forte resistência entre os dirigentes. Aos 33 anos, o zagueiro atua no Atlético-PR. Em entrevista exclusiva ao blog, Paulo André apontou o esgotamento do modelo brasileiro e viu dificuldades no posicionamento da categoria no Brasil. Leia abaixo.

Fim do Bom Senso

“Terminou pela falta de engajamento de novos atletas, falta de diálogo com a CBF, falta de verbas para financiar um projeto de advocacy de longo prazo em Brasília”.

Participação no movimento prejudicou a carreira

“Eu não me importo com isso. Tenho orgulho do que fiz e faria tudo novamente. Ganhei mais inimigos do que amigos, é verdade”.

Por que grandes nomes não protestam no futebol brasileiro

“Da mesma forma que a maior parte dos grandes grupos de mídia defendem apenas seus interesses e buscam sua sobrevivência e maior fatia do bolo, a maior parte dos atletas busca garantir seu próximo contrato e as boas relações com os patrocinadores. Se posicionar no país em que vivemos e defender uma ideia é quase um pecado. Falta educação e politização, não só aos atletas, mas à população em geral. Enquanto isso continuar assim, os políticos explorarão e abusarão das nossas riquezas”.

Clubes têm medo de Marco Polo Del Nero

“Cara, os presidentes de clubes têm medo da derrota, da pressão da mídia e da torcida. Eles sabem que esse somatório não lhes permitirá prosseguir no clube nas próximas gestões. Se Marco Polo tem poder de controlar os resultados, não sei. Mas que esse medo de perder o poder os incapacita de enxergar o negócio futebol no longo prazo e acaba por fazer com que eles não se organizem e não lutem por melhores condições para o todo, sem dúvida que sim”.

Modelo de gestão se esgotou no Brasil

“O modelo jurídico dos clubes se esgotou. Não há gestão que vença a ingerência política. Ou lutamos para que os clubes sejam empresas com responsabilidade, ou ficaremos enxugando gelo”.

Ex-presidente Petraglia vê o Atlético-PR campeão do mundo num futuro próximo

“Eu acredito. O Atlético está muito à frente de todos os clubes brasileiros no quesito gestão e inovação. Se a partilha dos direitos de transmissão de TV for mais igualitária e meritocrática, o Atlético conseguirá, sem fazer loucuras financeiras, estar entre os quatro melhores clubes do Brasil, ano após ano”.

Gramado sintético da Arena é uma vantagem do Atlético-PR

“É uma vantagem financeira, sem dúvida. O custo de manutenção é baixo e o estádio pode receber shows à vontade. Esportivamente, não vejo vantagem. É o melhor gramado do país, todos os atletas que vieram jogar aqui, elogiaram. O Palmeiras deve seguir esse exemplo para otimizar sua arena e não prejudicar a qualidade dos seus jogos”.

2017 e aposentadoria

“Estamos conversando sobre a renovação. Me sinto em casa aqui e acredito no trabalho que está sendo feito. O ano que vem tende a ser o último dentro de campo”.

Serás executivo ou treinador

“Essa é a pergunta que me faço diariamente. No momento, estou concluindo a faculdade de administração e finalizando uma pós-graduação em gestão do esporte. Não tenho pressa”.

Saída do Corinthians

“Saí porque não era bem quisto por uma parte da diretoria. Meus planos eram de encerrar a carreira por lá e continuar no clube, mas incomodei muita gente com as questões do Bom Senso. O meu contrato não seria renovado e, por isso, precisei seguir a vida”.

Paulo André ganhou todos os títulos possíveis com o Corinthians de 2009 a 2014. No Atlético-PR, atua pela segunda vez. Começou no Guarani e ainda passou por Le Mans da França, Shangai da China e Cruzeiro.


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