Treinadores x Imprensa Esportiva. Um debate sem fim
Alexandre Praetzel
Uma entrevista coletiva virou um embate entre entrevistador e entrevistado. Os repórteres têm uma pergunta, quando conseguem fazê-la, diante de um profissional que fica atrás de uma mesa, como se estivesse esperando um massacre. No último sábado, após Corinthians e Vitória, vimos o confronto entre o técnico do Vitória, Vágner Mancini, e o repórter Felipe Garraffa, da Rádio Bandeirantes de São Paulo.
Garraffa puxou números equivocados do jogo e fez seu questionamento em cima disso. Mancini deu uma resposta áspera e apelou para o time que o repórter torce ou não. Todo mundo tem o direito de perguntar o que quer e deve estar preparado para o que vier do outro lado.
Neste caso, na minha humilde opinião, os dois lados erraram. O colega insistiu numa informação errada. Quando se fala em números, é bom mostrá-los com exatidão, porque a chance de erro é enorme. Mancini poderia ter desconstruído a questão, valorizando o resultado em Itaquera e a quebra da invencibilidade do líder do Brasileiro. Preferiu o ataque e o xingamento, como ficou provado mais tarde, em áudio vazado.
Enviei uma mensagem a Mancini, com a liberdade e o respeito que sempre tive com ele, achando sua postura exagerada. Ele me respondeu. Leia abaixo.
“Boa tarde Praetzel! Aceito sua opinião. A coletiva já tinha terminado, quando aceitei que ele fizesse mais perguntas. Não achei que fui exagerado, ele toda hora me interrompia, isso tornou o clima mais pesado, mas procurei manter a linha e deixar a minha impressão. Não quis ser deselegante ou arrogante, e sim, preciso. Ele foi tendencioso. Grande abraço”, respondeu Mancini.
Depois, fui acompanhar a repercussão nas redes sociais. Fiquei impressionado com o massacre ao Felipe Garraffa e os cumprimentos ao Mancini. Houve comemoração e aplausos, como se Mancini tivesse derrotado um inimigo dos torcedores. E o ódio reina absoluto. Nós, jornalistas, somos vistos como adversários por grande parte dos técnicos, jogadores e consumidores. Ninguém é dono da verdade e cometemos erros diários, mas o extremismo passou dos limites.
Semana passada, conversando com empresários ligados ao futebol, eles me revelaram que vários treinadores estavam indignados com as críticas a Jair Ventura, pela reclamação à chegada de estrangeiros no futebol brasileiro. Muitos técnicos se sentem perseguidos pela mídia e pelo fato de muitos comentaristas e jornalistas não acompanharem o dia-a-dia de trabalho. Eu, particularmente, aceito essa visão, mas também contesto a infalibilidade da categoria, sempre disposta a debater pouco e ironizar quem tem capacidade para questioná-los.
É preciso melhorar a relação. Até porquê, jornalistas nunca poderão ser técnicos de futebol, mas treinadores podem virar comentaristas, mesmo que eles critiquem e odeiem grande parte da imprensa esportiva.