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Mancini quer reconstrução da Chape e resultados em conjunto com novo time
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Alexandre Praetzel

Vágner Mancini está pronto para o maior desafio de sua carreira como treinador. Aos 50 anos, será responsável pelo desafio de reconstruir a Chapecoense, dentro de campo, após a tragédia aérea de novembro de 2016. Mancini já tem 12 reforços à disposição e espera por mais novidades. O lateral-direito João Pedro, do Palmeiras, deve ser o próximo a ser confirmado. Em entrevista exclusiva ao blog, Mancini agradeceu a ajuda de outros clubes e prevê um recomeço difícil do ponto de vista técnico e emocional. Leia abaixo.

Início de trabalho na Chape

“Desde o dia 10 de dezembro, estamos trabalhando para reconstruir todo um departamento de futebol, onde perdemos peças importantes. Dia 02 de janeiro, iniciamos a fase de exames e começamos a ter a chegada de contratados. Dia 06 de janeiro, iniciamos os trabalhos no campo”.

Estilo de jogo num time novo

“A Chape vem fazendo ótimas campanhas nos últimos anos. Isso deve ser levado em conta, não só a cultura que se criou no clube como também a cara da equipe. Pretendo dar sequência a esse modelo. Para se definir um estilo de jogo, preciso olhar as características dos atletas”.

Primeiro jogo dia 21

“Talvez seja o jogo mais esperado pelos amantes do futebol. Para nós, servirá para três coisas: avaliar nosso potencial como um grupo novo, avaliar a dimensão que a Chape se tornou e emocionalmente, saber como iremos nos comportar em campo diante de tudo que aconteceu”.

Recuperação do clube ou resultados

“Os dois! A reconstrução vai continuar por um longo tempo. Os resultados estarão tolerantes até um certo ponto. Todos vão ser pacientes, mas estamos falando de futebol”.

Ajuda dos outros clubes

“Muita gente nos ajudou! No momento adequado, o clube vai agradecer publicamente sobre isso. A Chape só conseguiu montar um time porque algumas pessoas se sensibilizaram com a nossa causa. Quem não pode ajudar, nós entendemos também”.

Aproveitadores com a situação da Chape

“Não vi ninguém se aproveitando. Vi empresários tentando indicar jogadores a todo instante, jogadores que não jogariam uma Série A ou a Libertadores por falta de nível técnico. Por um outro lado, tivemos muita gente ajudando de outra forma, empresas que se solidarizaram e gratuitamente cederam equipamentos e tecnologia ao clube”.

Dificuldades em não ser rebaixado

“Teremos um ano duro, com jogos difíceis, como é o calendário brasileiro. Hoje em dia, lutar contra o rebaixamento não é privilégio somente de times de potencial financeiro menor, o Inter que o diga. Por isso, temos que montar uma equipe competitiva e acreditar no trabalho”.

Neto e Alan Ruschel

“Conto com eles sim! Com certeza, eles terão uma importante missão ao longo do ano, não somente dentro de campo, que esperamos seja o mais breve possível, como também nos incentivando diariamente com suas lutas individuais”.

A Chapecoense abrirá a temporada em amistoso contra o Palmeiras, dia 21, em Chapecó. Mancini espera escalar um time próximo ao que utilizará na abertura do campeonato catarinense, dia 29, contra o Inter de Lajes, na Arena Condá.


Executivo da Chape prevê “loucura” no primeiro jogo e time “forte” em 2017
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Alexandre Praetzel

Vinte dias depois da tragédia aérea que vitimou a Chapecoense, o clube tenta se reestruturar o mais rápido possível. Um novo presidente foi escolhido e o técnico Vágner Mancini contratado para comandar a nova equipe. Na execução do departamento de futebol, o responsável será Rui Costa. O ex-diretor do Grêmio conversou com o blog com exclusividade e expôs as dificuldades e desafios para recolocar a Chapecoense em campo, com um calendário recheado de grandes competições, em 2017, e com o forte apelo da comunidade, esperando rever o time do coração. Acompanhem abaixo.

Modelo de reestruturação da Chape

“É um modelo voltado para a identificação do perfil do trabalho do clube, implantado há quatro anos. Orçamento, contratações. Sempre respeitei bastante esta filosofia. É preciso fazer uma integração muito grande. Puxar um ex-jogador para a gerência e ter como convicção o que eu penso e manter o padrão competitivo. É um grande desafio que nunca foi enfrentado no Brasil. Uma reconstrução para contratar mais de dez atletas em 20 dias. Muito complicado. Não tem que contratar só um jogador para cada posição. São dois ou mais por posição. Trabalho muito próximo com o jurídico pelos grandes números de contratos, também”.

Ajuda de outros clubes

“Alguns clubes estão ajudando concretamente. Não na quantidade que muitos anunciaram. É um processo do nosso lado. Estamos escolhendo o que nós queremos e não abrimos mão disso. Não estamos com qualquer lista de jogador que não será aproveitado em outros clubes. Se fosse assim, já teríamos 25 reforços. Terão que se enquadrar num orçamento muito rígido. Cruzeiro, Palmeiras, Sport e Atlético-MG estão com gestos diferentes de apenas ceder jogadores. O São Paulo também com a possibilidade de nos emprestar o meia Daniel, mas não podemos esperar muito tempo. Quando tem ajuda, é de qualidade a partir do nosso planejamento”.

Jogadores querem atuar na Chape

“Sinto que sim. Tenho falado com jogadores de todos os patamares. Jovens, de certa experiência no futebol, de mais idade, até na Europa. Tem que discutir tudo na parte financeira. Estão falando comigo com sinceridade. Quase todos mostram entusiasmo em jogar aqui. São profissionais e levam em conta algumas situações financeiras, algo que acho normal”.

Será difícil não ser rebaixado

“Te diria que vamos lutar muito para montar uma equipe competitiva. Com esse cenário, devemos ficar longe disso. Agora, toda reestruturação é complicada. Você chega no vestiário com vários jogadores que nunca jogaram juntos em três meses. Não será fácil para o Mancini. A prioridade é sermos competitivos. Gostaria de conquistar títulos, mas temos a racionalidade de sabermos que precisamos ter um time capaz de fazer uma boa pré-temporada e termos um grupo competitivo de qualidade e quantidade”

Clima na cidade

“No primeiro dia que eu entrei na cidade foi impressionante. Percebia a tristeza das pessoas na rua. Convivendo mais, as pessoas conversam contigo com esperança. Começam a sorrir, pensar no time, falar de futebol. Volta a fazer parte da rotina de uma forma mais participativa. A memória e honra ficarão eternizadas. Os sentimentos estão migrando para ver o time voltar à campo. A vida tem que continuar e a mudança para uma energia maior vai nos ajudar bastante”.

Primeiro jogo em 2017

“O jogo será uma loucura. Estádio cheio, uma emoção que eu nunca tenha sentido no futebol. Só o fato de o time entrar em campo, fardados como profissionais da Chape, será uma loucura. Será a primeira vitória, sem dúvida”.

Traumas

“Não podemos confundir entusiasmo com a capacidade de fazer a leitura correta das coisas. Nunca vamos comparar jogadores que se foram com os próximos. Esse é um ano de transição em que a gente pode ser submetido a grandes desafios, grandes provas. Início complicado. Acho que conseguiremos passar por esses desafios, mas a partir da entrada em campo, a cobrança será a mesma. Não pode achar que está tudo errado. É preciso entender o que está sendo reconstruído”.

A Chapecoense contratou o zagueiro Douglas Grolli, do Cruzeiro, até o momento. O meia Daniel do São Paulo deve ser o próximo reforço. A diretoria pediu à Federação Catarinense o adiamento da sua primeira partida no Estadual para a segunda semana de fevereiro. A Chape vai disputar o catarinense, Libertadores da América, Recopa Sul-Americana, Copa do Brasil, Primeira Liga e Série A do Brasileiro, em 2017.

 


Goleiro da Chape guarda mensagens do grupo por aniversário antes da viagem
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Alexandre Praetzel

Marcelo Boeck é um dos goleiros da Chapecoense. Aos 32 anos, comemorados no dia 28 de novembro, Marcelo não embarcou com a delegação para Medellín, porque havia pedido dispensa para comemorar o aniversário, em Chapecó. Convivi com Marcelo no Inter, desde sua ascensão ao profissional, em 2005. Em entrevista ao blog, Marcelo relembrou a convivência e os bons momentos com os companheiros de clube. Leia abaixo.

Momento mais lembrado com o grupo

“Sempre é o convívio. É aquilo que faz a gente ser o melhor grupo, a melhor pessoa, porque esse grupo não convivia só na hora dos treinos, jogos, concentrações, mas convivia fora de campo. Hoje, quando acontece uma tragédia dessas, é muito fácil falar que o grupo era especial, maravilhoso e tal, porque a gente tem esse sentimento, mas na verdade era isso que acontecia por causa desse convívio, respeito, alegria. Confesso que só consigo comparar o grupo do Inter de 2006, o tanto convívio que tivemos fora de campo. Seja aniversário dos filhos, almoço, janta, seja as esposas, os filhos, tudo aquilo que envolve. Tinha um grupo de jogadores que marcou uma viagem de férias para Punta Cana, tamanho era a afinidade e intimidade do grupo. Então, são aqueles momentos que a gente tem uma conquista, estamos juntos, mas depois que acaba o jogo, também estamos juntos fora de campo. Esse é o momento mais lembrado do grupo. O meu momento pessoal é porque segunda-feira eu estava de aniversário e antes deles embarcarem no voo, todos me mandaram as felicitações e os parabéns pelo meu aniversário e eu vou ter isso guardado sempre. Não vou apagar, não vou sair do grupo, vou manter essas mensagens porque essas lembranças que eu quero ter deles. Uma lembrança de alegria, de respeito e de uma grande amizade. Para mim, é essa imagem”.

Convivência num time que estava na sua melhor fase

“Aqui na Chapecoense encontra-se um grupo de pessoas que tiveram história no futebol e queriam ajudar esse clube a se tornar uma potência no Brasil. Outros que viveram uma fase pior nos últimos anos e a Chapecoense deu uma nova oportunidade e jovens que queriam aparecer no cenário nacional. Todos com o mesmo intuito e com o mesmo objetivo. Muitos deles vivendo o melhor momento das suas vidas, já com pré-contratos assinados com grandes clubes, renovações, permanências, fazendo com que a Chapecoense chegasse no melhor momento da história. Esse convívio fazia com que todos aqui tivessem uma motivação, um foco muito grande e uma empolgação de fazer, não só o clube, mas essa cidade que se envolve e merecesse essas conquistas. Era um grupo que muito fez e muito ficará marcado por causa disso”.

Reconstrução da Chape

“Eu particularmente, vejo a reconstrução como uma parte daqueles que ficaram. Acho que se Deus deu uma oportunidade para cada um nós ficar por aqui, é primeiro para não deixar esquecer o legado deixado por aqueles que partiram, fazer lembrar sempre. Para aqueles que virão para cá, a reconstrução de um elenco, um clube, todos têm que saber que para vir para a Chapecoense é com esse perfil de uma humildade, abraçando o projeto, a idéia do clube, fazendo com que você se enquadre dentro desse projeto e não o clube dentro de um projeto pessoal. Mas muito da comunidade, dos outros clubes do Brasil, acho importantíssimo. Lembro que na Europa, nos nove anos que eu estive lá, o Borussia Dortmund teve um momento em que iria decretar falência, iria fechar. Já foi campeão da Champions, é a maior média de público do mundo nos estádios e o Bayern Munique, maior rival deles, foi lá e pagou todas as dívidas. Isso fez com que o Borussia Dortmund hoje pudesse jogar até finais novamente, ter jogadores que têm, ser o que é hoje também. A gente se compara muito à Europa e queria ser como a cultura, os princípios europeus hoje, esse momento da Chapecoense é um grande momento para isso. Fazer com que o clube não seja rebaixado nos próximos três anos, emprestar jogadores, dar a solidariedade, apoio e o consolo necessário para que esse clube, de tão pouco tempo e cresceu dessa maneira, agora consiga receber todo esse apoio e se manter aqui”.

Marcelo pretende seguir na Chapecoense e trabalhar pela reconstrução do clube.


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