Bolzan garante final em POA e vê Grêmio pronto para ser campeão
Alexandre Praetzel
Romildo Bolzan Jr. foi reeleito presidente do Grêmio para o próximo triênio. Político de carreira, o dirigente convenceu 85% dos sócios gremistas a apostarem em mais um mandato à frente do tricolor. O Grêmio está na final da Copa do Brasil e pode quebrar um jejum de 15 anos sem títulos nacionais, logo na sua gestão. Bolzan Jr. falou sobre a perda de mando de campo, Renato Portaluppi, Primeira Liga, rebaixamento do rival Inter e o modelo complicado do futebol brasileiro, em entrevista exclusiva ao blog. Leia abaixo.
Decisão do STJD sobre perda do mando para o Grêmio
''Não abalou. Primeira reação quando recebi a notícia, assim que encerrado o julgamento, os advogados me ligaram e o sentimento foi de uma certa revolta, mas depois explicando as fundamentações e tudo que veio, vi que era uma situação de fragilidade jurídica, não tinha sustentação, tinha recurso cabível. Já fizemos o recurso. Obtivemos efeito suspensivo. Não sei se vai ter pauta até lá, mas de qualquer maneira, se tiver pauta, acredito que reverte a decisão. Então, há um ambiente de busca de segurança jurídica, a reação à decisão foi muito grande em todo o país. Então, isso dá uma segurança, embora não seja uma situação concluída, mas também dá uma segurança que o Grêmio tem perspectivas boas de vencer essa situação''.
Invasão de Carol Portaluppi foi uma falha do Grêmio
''Não. Tu sabes que tu tens que contextualizar isso. O Renato é um gremistão e o Grêmio não disputa uma final de Copa do Brasil ou Campeonato Brasileiro há 15 anos. Estava todo mundo eufórico com a perspectiva. Dentro deste contexto, a gente tem que ter a capacidade de entender as circunstâncias. Houve uma falha, houve uma situação de irregularidade? Houve. A pena foi proporcional à falha havida? Não foi. Então, essa é a questão mais importante. Ninguém está pedindo para não ser penalizado, desde que a proporcionalidade seja observada. O Grêmio só pede isto. Houve uma situação que poderia ser contemplada? Perfeito. Mas dá uma multa, aplica uma advertência, qualquer coisa do gênero, tira a primariedade do Grêmio, mas não faça uma situação dessa natureza porque efetivamente foi abusiva a decisão e o efeito suspensivo, não é que tenha corrigido, mas minimizou a questão e agora depois do julgamento do mérito, creio que nós vamos com a proporcionalidade atendida''.
Corre risco da decisão não ser na Arena do Grêmio
''Não. Não corre não. Acho que não teria perspectiva de tempo de julgamento e mesmo que tivesse perspectiva de julgamento, mesmo assim a pena não seria mantida. Então, eu fico tranquilo e nós da Arena portoalegrense, que administra o estádio, vamos abrir as vendas dos ingressos e trabalhar totalmente essa idéia de fazer lá''.
Surpreso com trabalho de Renato
''Não, não fiquei. Mesmo porque a situação que nós tínhamos no Grêmio era uma situação muito clara de que havia um time treinado. Nós não tínhamos um time solto, que estava numa decadência técnica. Passou um momento complicado e tinha problemas estruturais, tinha alguns problemas de ordem de correção e o Renato chegou, verificando isso, corrigiu. Teve a sensibilidade de corrigir e identificou perfeitamente todas as questões e corrigiu. Melhorou o time. Deu mais sustentação defensiva, criou mais a compactação, conseguiu fazer mais a verticalidade. Isso criou uma condição de que o time teve condições de fazer, inclusive, enfrentamentos fora. O Grêmio não ganhava fora. Passou a jogar fora, ganhar, empatar, ter enfrentamentos de igual para igual e isso melhorou muito a performance do time. Então, eu acho que o Renato aperfeiçoou o que o Roger tinha feito. E o mérito está exatamente nisso. A inteligência do processo é que um não desmanchou o que o outro fez e qualificou aquele processo e melhorou as situações que o time precisava melhorar''.
Jejum de 15 anos sem títulos nacionais
''Não ganhamos né(risos). Futebol acontece isso. Eu acho que o Grêmio teve um processo muito complicado de deficiência financeira a partir daquele dimensionamento da ISL e a não readaptação ao ganho, quer dizer, daquilo que nós tínhamos e não criar uma condição de voltar ao status anterior. Fazer pelo menos o ganho que o Grêmio tinha e gastar o que o Grêmio tinha, o Grêmio ficou com a despesa, mas não ficou com a receita. Isso, de certa forma, jogou no longo prazo um processo que acabou no rebaixamento em 2004. Na verdade, a gente, quando vê esses processos, quer ganhar, mas não examina as consequências do futuro. Então, aquilo foi muito complicado. Demorou muito tempo para ser corrigido. Eu acho que esses processos depois, o Grêmio nunca mais conseguiu chegar a uma situação, exatamente por conta de uma desestruturação. Mas o futebol correspondeu a muitas expectativas. O Grêmio, eu acho que esse é um dado extremamente importante, é bom avaliar. O Grêmio nunca deixou de estar nas pontas dos rankings nacionais. Sempre foi um time que teve regularidade também, sempre chegou. Disputou Libertadores, tudo mais. Disputou uma final de Libertadores neste meio caminho. Foi várias vezes vice-campeão brasileiro, terceiro, quarto, quinto lugar. Hoje é o segundo do ranking, mas muito próximo do primeiro e esteve na ponta, recentemente. Então, o Grêmio teve regularidade, mas não teve títulos. Está na hora de chegar aos títulos. Eu acho que é isso que nós temos que fazer agora. Nós temos que cuidar de todos os detalhes para não deixar passar absolutamente nada e chegar nesta final de Copa do Brasil com tudo atendido de modo que não deixe escapar nada para ser campeão''.
Grêmio é mais time que o Atlético-MG
''Não. Não é mais time que o Atlético-MG. São dois times um tanto diferentes. Valores individuais eu acho que se equivalem. O coletivo do Grêmio e o coletivo do Atlético também se equivalem. O que pode ter mais são peças de reposição, de mais qualidade. Acho que os dois times se equivalem, tanto nas suas peças individuais quanto no coletivo. Qualquer um pode ser campeão. Então, levando em conta tudo isso, eu acho que não é mais, mas também não acho que é menos. Estamos em condições iguais''.
Renato fica
''Fica. Não importa a questão de ser vice. O Renato, se desejar e nós conseguirmos acertar, para mim já é o nosso treinador. Renato merece um trabalho de longo prazo. Ele tem passado pelos clubes de uma maneira muito rápida. Passa pelo Grêmio rapidamente, passa pelo Atlético-PR, Fluminense, Bahia. Está na hora de um trabalho a longo prazo e o Grêmio tem uma comissão técnica permanente que estrutura tudo isso. Tem o grupo de transição, tem a base. Então, há toda uma condição para fazer um trabalho de longo prazo com ele no comando. Se ele estiver disposto, é o nosso treinador''.
Modelo de gestão brasileiro falido
''Tem um fundo de verdade nisso, mas também temos uma luz no fim do túnel. Essa legislação, essa lei que regula a responsabilidade fiscal dos clubes, o Profut, que dá uma faixa de adaptação, principalmente, no que diz respeito ao tempo para se adaptar às questões dos déficits. Tu fazeres dentro de um mês, um ano, a receita e a despesa iguais, diminuindo o déficit, até zerá-lo. Chegar nesse processo, ter responsabilidade fiscal, pagar os impostos em dia, exigir as certidões negativas para os campeonatos. Tudo isso é um processo extremamente importante. Acho que nós estamos com a legislação pronta e em vigor, de modo que se os clubes tiverem observações àquilo, nós vamos chegar num modelo de gestão novo. O Grêmio já percebeu isso há dois anos atrás e já vem procurando exatamente fazer esse tipo de ajuste e já estamos numa posição um pouquinho melhor do que estávamos. Não é exatamente tudo aquilo que queríamos estar, como o nosso projeto é de quatro anos, a gente deseja que no final de quatro anos, nós vamos conseguir regularizar definitivamente nosso fluxo, nossa estabilização, nosso processo e ter a capacidade de investimento. Então, esse processo que nos obriga a optar pelo refinanciamento, vai levar os clubes brasileiros para quem levar a sério, um certo equilíbrio e moralização nas gestões dos clubes''.
Primeira Liga é um evento passageiro
''A Primeira Liga tem dificuldades por várias razões. Não é nem pela oficialização, poderia jogar. A Primeira Liga tem muito mais um aspecto cultural, de dificuldade de entender que a auto-organização é um bem coletivo e necessário para o futebol brasileiro e qualquer futebol. A Primeira Liga não teve ainda dos clubes a visão mais coletiva, não se despiram às vezes das questões dos clubes e não conseguem entender que o coletivo pode preponderar numa situação dessa natureza. Então, os clubes levam suas culturas internas, suas dificuldades, examinam apenas suas situações prioritariamente para depois examinar o coletivo. Isso não gera um ambiente de Liga. Eu faço isso como auto-crítica, faço isso porque fui estimulador e ainda defendo e quero acreditar que o processo de auto-organização do futebol pelos clubes é um processo também que pode vir para ficar. Mas eu reconheço as dificuldades disso e acho que também posso fazer e pode ser feito por outros organismos. Reconheço que há dificuldades enormes porque não existe ambiente cultural de ceder, de consensuar, dos clubes terem essa e finalizarem um processo de auto-organização''.
Inter rebaixado será bom para o Grêmio
''Eu tenho dito e tenho sido cobrado. O que eu não quero para mim, não quero para os outros. Eu já fui cobrado demais, já disse isso publicamente e estou reiterando para ti. Eu gostaria de cuidar apenas do meu. O Internacional que se vire com seus problemas, mas eu reitero como tese o que eu não quero para mim, não quero para os outros''.
Wallace será negociado em janeiro
''Ao Grêmio, nada chegou e se tiver uma proposta que seja boa para o jogador e para o Grêmio, vamos em frente. Mas tem que ser uma proposta que contemple o Grêmio e também o jogador. Se não for assim, nós não vamos fazer negócio. Tem que ser uma coisa absolutamente razoável. O Grêmio já teve oportunidade de vender, nós mudamos o enfoque dessas questões. O jogador estourava, tinha perspectiva, parecia que ia ser craque e já era vendido. Nós mudamos o foco disso. Nós seguramos o Luan, Wallace, Pedro Rocha, Everton, seguramos vários jogadores aqui porque entendíamos que havia necessidade de um ganho desportivo com eles e depois, então, vendê-los. Estamos segurando eles. Estamos nessa política e se for possível fazer isso, melhor. Agora, chega um determinado momento que é bom para todo mundo vender. Tem que aparecer a proposta concreta, tem que ser absolutamente satisfatória para o clube e jogador. Se não, o nosso processo é ficarmos com o que temos de base, ficar com o que temos de plantel necessário e vamos qualificá-lo do que falta''.
O Grêmio fará o primeiro jogo da final, nesta quarta-feira, no Mineirão. O segundo confronto será na Arena tricolor, com a convicção do presidente Romildo Bolzan Jr. O último título nacional do Grêmio foi a Copa do Brasil, em 2001, com vitória sobre o Corinthians, no Morumbi.