Blog do Praetzel

Arquivo : Reinaldo Rueda

Eu acreditei no Rueda, mas prefiro Carpegiani
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Alexandre Praetzel

Reinaldo Rueda sempre me passou honestidade e transparência nas suas palavras. Fui um árduo defensor do seu trabalho, desde que ele chegou ao Flamengo. Entendia que ele merecia seis meses de crédito, começando uma pré-temporada e escolhendo alguns atletas. Depois do vice-campeonato na Copa Sul-Americana, Rueda foi procurado pela Federação Chilena e preferiu se esconder. Nunca admitiu uma negociação, mesmo com muitos jornalistas chilenos cravando as conversas, e confirmando o acerto, posteriormente.

Aí, veio a decepção. Rueda desembarcou no Brasil, dizendo que não tinha nada definido. Horas depois, sua saída foi anunciada pelo Flamengo. Não deu para entender por que um profissional bem conceituado preferiu a “milongagem” em detrimento à verdade? Aos 60 anos, poderia ter admitido a proposta chilena, sem enrolação. Evidentemente, a direção do Flamengo já esperava pelo desfecho negativo com o colombiano. Vida que segue, mas Rueda caiu no conceito de muita gente, pela maneira como conduziu o processo. Só que ele não pode servir de mau exemplo para bons profissionais estrangeiros. Certamente, treinadores brasileiros vão aproveitar essa situação para fomentar uma reserva de mercado, aumentando a rejeição com quem vem de fora.

Sai Rueda, entra Carpegiani. Gosto muito dele. Acredito que Carpegiani sofre de preconceito e já escrevi sobre isso. Não tem vocabulário rebuscado e é franco e direto nas suas declarações e observações. Prefere o jogo ofensivo e exige o máximo de cada jogador. Foi um craque como meio-campista e liderou o maior time da história do Fla, fora de campo, no início dos anos 80. Óbvio que o futebol mudou, mas Carpegiani não perdeu o conhecimento. Fez bons trabalhos nos últimos anos, mesmo com pouca duração. Sabe o tamanho do Flamengo e tem lastro para chefiar um vestiário experiente.

Se vai ganhar títulos ou não, ninguém pode prever ou afirmar. A realidade é que Carpegiani merece crédito, confiança e respeito pela sua trajetória, aos 68 anos . Deixem o cara trabalhar, com respaldo e paciência. Um bom nome para o momento do Fla.


Quando Rueda deve ser cobrado por resultados?
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Alexandre Praetzel

Fábio Carille se mostrou a favor da vinda de técnicos estrangeiros para o Brasil, mas questionou por que eles precisam de tempo para trabalhar e a mesma tolerância não é praticada com os profissionais daqui? É um bom debate. Acho que treinadores de fora têm mais dificuldades de adaptação ao nosso calendário e encontram outra cultura de trabalho, assim como ocorreria se algum brasileiro fosse para o exterior.

Em 2005, Vanderlei Luxemburgo foi para o Real Madrid e foi saudado por todos. Ficou um ano. Luiz Felipe Scolari trabalhou no Chelsea, em 2009, mas acabou dispensado, sem completar uma temporada. Os dois foram reféns de resultados, mesmo com currículos consagrados.

Para mim, é preciso dar tempo a todos os treinadores. Sou adepto da continuidade e entendo que as cobranças devam começar, após seis meses de trabalho. Com 180 dias, é possível apresentar um time definido, ideias de jogo e sistemas táticos. Óbvio que se a equipe for última colocada de um torneio ou estiver muito ameaçada de rebaixamento, uma mudança pode ocorrer. E isso vale em qualquer país. Em dezembro de 2015, José Mourinho caiu no Chelsea, porque estava nessa situação, mesmo tendo sido campeão, seis meses antes.

Reinaldo Rueda chegou ao Flamengo e estreou num mata-mata diante do Botafogo, numa semifinal de Copa do Brasil. É campeão da Libertadores da América e participou de duas Copas do Mundo, dirigindo Honduras e Equador. Tem experiência e qualidade, mas sua vinda gerou críticas e comparações com outros estrangeiros, que tiveram passagens rápidas pelo Brasil. Evidente que ele será cobrado, mas isso deve ser feito, a partir de 2018. Pegou o Fla mais para o fim do ano, em meio a três campeonatos importantes. Pode ser campeão? Pode, mesmo que isso seja bem difícil, com pouco tempo de trabalho.

Ninguém é milagreiro e Rueda sabe disso. A cultura imediatista precisa ser evitada e cabe a nós, jornalistas, também incentivar mais tolerância com nossos compatriotas e com quem vem de fora. E tapar os ouvidos para quem é definitivo com frases como “estrangeiros não ajudam, não sabem nada e não deixam legado nenhum”. Pura xenofobia.


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