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Arquivo : processo de seleção

Ex-coordenador nega que base seja tomada por empresários no Corinthians
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Alexandre Praetzel

O Corinthians surpreendeu sócios, torcedores e imprensa, quando mudou todo o comando das categorias de base, em março. Profissionais que participaram do título da Copa São Paulo Jr. acabaram dispensados ou rebaixados. O diretor Fausto Bittar saiu para dar lugar a Carlos “Nei” Nujud.

O ex-lateral Coelho virou técnico do Sub-20 e voltou a ser auxiliar, menos de 30 dias depois. O coordenador Rodrigo Leitão foi contratado em novembro e foi mandado embora, em março. Há quem diga no clube que a “entrega” do departamento de base a um grupo político, ocorreu em troca de apoio para assegurar a permanência do presidente Roberto de Andrade, com o fim do processo de impeachment, no Conselho Deliberativo, dia 20 de fevereiro.

O blog entrevistou Rodrigo Leitão com exclusividade sobre sua rápida passagem, os processos de avaliação e se há corrupção no setor. Leia abaixo.

Por que saíste do Corinthians tão rápido?

A nova direção optou por outro profissional. O que posso dizer é que em pouco tempo enquanto estive no Clube, em conjunto com todo o grupo de trabalho, houve muitos e significativos avanços. Continuo torcendo para a sequência do que estava em construção. Sob o ponto de vista dos processos técnicos, conseguimos por exemplo:

a) Delineamento de um planejamento de curto, médio e longo prazo (plurianual);

b) Definição de conteúdos de trabalho para cada faixa etária, de acordo com a fase sensível de desenvolvimento e      aprendizagem de cada categoria (respeitando etapas de iniciação, especialização, alto rendimento e transição);

c) Organização de treinos para o desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas, emocionais, sociais e     educacionais, com integração entre os profissionais de cada categoria;

d) Caracterização do perfil (físico-fisiológico-técnico-tático-psicológico) do jogador de base desejado pelo Clube;

e) Construção de Centro de Inteligência (CADI2) que além de monitorar o desenvolvimento dos jogadores de base do Clube, passou a ser um dos pontos de apoio do Departamento de Captação na avaliação prévia de jogadores de base;

f) Em conjunto com o Departamento de Captação definição de parâmetros observáveis e concretos para avaliação de jogadores (com objetivo de minimização de erros);

g) Efetivação do trabalho do Departamento de Fisiologia da base;

h) Efetivação da utilização do Centro de Treinamento da base.

(e isso tudo sem mencionar resultados esportivos: a conquista da Copa São Paulo, dos Torneios Preparatórios para o Campeonato Paulista SUB15 e SUB17).

Então estou certo de que há grande potencial para que as coisas sigam avançando exponencialmente.

A base do Corinthians está tomada por empresários? Só joga quem é indicado ou tem padrinho?

Não. Estive no Corinthians por cinco anos (na minha primeira passagem – até janeiro de 2015). Voltei agora para um projeto de caráter técnico-metodológico. Campo total.

Deve jogar quem está melhor, deve jogar quem tem merecimento para tal. E para não haver dúvida sobre a conduta de cada pessoa do grupo técnico de trabalho, é preciso ter muita clareza sobre como se dá a construção de processos, procedimentos e critérios que norteiam a decisão de todos (desde a aprovação de um jogador em avaliação até a escalação de jogadores para jogos).

Com clareza, com processo sólidos e bem construídos e com grupo de trabalho qualificado e bem treinado é quase impossível qualquer desvio da rota. Se faltam processos, procedimentos e critérios, se não há clareza técnica, haverá grande possibilidade de erro. E em um clube de tamanha grandeza o erro vai dar margem para interpretações diversas. Por isso não pode haver erro. Não aceitaria implementar um projeto técnico no Clube se houvesse qualquer chance de interferência de empresários.

Muito se fala que a gestão do Fausto Bittar, com teu apoio, estava “limpando” a base contra corrupção no departamento. Concordas com isso?

Voltei para o Clube com objetivo de ajudar a implementar ideias, processos, procedimentos, conteúdos e critérios de ordem técnica. Promover integração efetiva do grupo de trabalho no desenvolvimento dos jogadores. Meu trabalho esteve o tempo todo voltado para o campo.

Fausto tem uma visão moderna, séria e muito responsável sobre gestão e queria clareza sobre os processos e procedimentos, institucionalizá-los, tê-los com objetivos bem definidos para não dar margem para qualquer erro ou possível “desvio de conduta”.

Por que o Corinthians aproveitou poucos meninos de cinco anos para cá, mesmo com vários títulos nas categorias?

“O processo de desenvolvimento dos jogadores de base não termina quando eles são promovidos da categoria SUB20 ao profissional. Ele continua na equipe profissional com paciência e qualidade de trabalho. O Corinthians vem conquistando títulos e promovendo jogadores. O aproveitamento vai se dando aos poucos.

Esse ano em partida contra o Red Bull pelo Campeonato Paulista, seis jogadores promovidos da base do Clube recentemente iniciaram o jogo (além do Jô). O processo de formação do jogador com perfil Corinthians é aquele que quer formar jogadores vencedores esportivamente falando. Chegar longe nas competições (para garantir maior minutagem competitiva).

Disputar “finais” para garantir exposição durante o processo de formação à momentos decisivos. Não é o vencer a qualquer custo. É o vencer como consequência lógica de um trabalho muito bem feito para o máximo desenvolvimento das potencialidades dos jogadores. A maior atenção a etapa de transição base/profissional, e a consciência de que o processo de formação continua na equipe principal, vão a médio prazo aumentar cada vez mais a utilização de jogadores formados no Clube, sem dúvida”.

Como se revelam bons jogadores, na tua opinião.

Falando em linhas gerais, sem levar em conta um clube em especial:

a) Antes de mais nada: clareza no perfil de jogador que se quer desenvolver, clareza sobre o perfil do jogador que se deve captar, e claro, conexão entre essas duas coisas. Formar bons jogadores sem perfil para um clube será bom para outro clube;

b) Ambiente de aprendizagem apropriado;

c) Qualidade do trabalho (o trabalho faz sim a diferença – para isso bons profissionais);

d) Controle de qualidade preciso sobre o trabalho e sobre o desenvolvimento dos jogadores;

e) Compreensão de que o jogador, antes de ser jogador é “ser humano” que joga, como indivíduo integral e total, que tem necessidades, anseios, problemas;

f) Processo claro, definido e coerente de promoção de jogadores categoria a categoria até chegada na equipe profissional;

g) Entendimento de que o processo de desenvolvimento continua mesmo quando o jogador é promovido das categorias de base para a equipe profissional;

h) Integração efetiva nos clubes “base-profissional”;

i) Estrutura adequada para construção do Ambiente de Aprendizagem e para boas condições de treino e convívio.

Quem destacarias a médio e longo prazo, hoje.

Esse é o tipo de informação que é estratégica do Clube. Então não posso responder.

Vais trabalhar na CBF, ao lado de Edu Gaspar?

Não que eu saiba. Apesar das especulações em torno do meu nome não recebi nenhum contato da CBF sobre essa questão.

É possível ter gestão profissional na base com os clubes brasileiros envoltos em problemas financeiros e políticos?

Sim, claro! Mas essa é uma discussão longa e profunda que resultaria em horas de conversa porque passaria pelo debate sobre modelos de gestão, sobre novas soluções para problemas antigos, sobre fazer mais e melhor dentro das condições atuais dos clubes (o que é diferente de fazer “o possível”), mas não só dos clubes… do país de uma forma geral. Então proponho em nova oportunidade uma conversa sobre o tema.

Leitão já tinha trabalhado como técnico da base corintiana de 2010 a 2015. Hoje, o Corinthians tem Guilherme Arana e Maycon como titulares do profissional, além de Jô, que saiu e voltou. Léo Príncipe, Pedro Henrique, Mantuan, Pedrinho, Marciel e Léo Jabá também estão integrados.

 

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