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Casares defende Raí e pede pacificação política urgente no São Paulo
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Alexandre Praetzel

O São Paulo estreia no Brasileiro contra o Paraná Clube, nesta segunda-feira. O tricolor não é considerado um dos favoritos ao título e muita gente vê o time ainda se formando e longe da disputa de títulos. Diego Aguirre chegou e começa a dar uma cara para a equipe. Fora de campo, conselheiros e dirigentes tentam dar respaldo e apoio a Raí e os demais integrantes do departamento de futebol para o trabalho dar certo a curto prazo. O blog entrevistou Júlio Casares, integrante do Conselho de Administração e homem do Marketing e Comunicação, na gestão de Juvenal Juvêncio. No papo exclusivo, Casares pede a pacificação política urgente no clube e defende o novo estatuto para fortalecer o São Paulo, nos próximos mandatos. Confira a seguir.

O São Paulo é anti-democrático, com um Conselho de muitos vitalícios e pouca renovação?

Eu não acho que o São Paulo é anti-democrático. Ele tem uma história em cima de muitos ilustres e abnegados são-paulinos que fizeram e construíram o patrimônio do São Paulo. Não é só o patrocínio físico com o Morumbi, área social, Cotia, Barra Funda. Construíram uma filosofia em que o São Paulo sempre teve um conselho e seus homens eram homens que discutiam internamente as questões e foi símbolo de uma postura muito importante dentro da sua história. O São Paulo, talvez, por uma contingência, não teve renovação à altura desses homens que sempre criaram princípios básicos de uma grande instituição. Mas eu sou muito otimista, porque hoje nós temos bons conselheiros, grandes lideranças, independentemente de lado, tanto na Situação quanto na Oposição. Nós temos são-paulinos com condições de sentar numa mesa e discutir o São Paulo. Aí a renovação acaba sendo uma coisa natural. Mais vale uma renovação de ideias e princípios e projetos do que apenas uma renovação etária, de idade. As vezes, você tem um jovem que pensa de forma retrógada e uma pessoa mais idosa que tem ideias avançadas. O que vale é uma renovação de princípios e o estatuto do São Paulo, que é moderno, que prevê governança, profissionalização e modernização, é um exemplo, foi um passo que foi construído pelos sócios, votado por unanimidade no Conselho Deliberativo. Teve aprovação de 84% dos sócios, foi questionado na Justiça porque judicializaram a discussão do estatuto e o estatuto teve seu vencimento judicial em todas as instâncias. Então, é um documento importante. Claro que vai passar por alguns ajustes. Isso é natural. O São Paulo está vivendo uma transição de estatuto novo, após ampla discussão, com equilíbrio, serenidade, envolvendo todos, através de um amplo debate. Toda e qualquer mudança de um documento como o estatuto, tem que ser feita como ele foi construído, de apresentação de propostas, de emenda, comissões legais que fazem parte do São Paulo, dando seu parecer. As figuras exemplares que o São Paulo tem no passado, não vou aqui nominar, se não acaba tendo injustiça, porque posso esquecer alguém, elas sinalizam um grande futuro para as pessoas que vêm adiante. É nisso que eu acredito. Tive condições de fazer um trabalho de marketing importante, numa filosofia, com Marcelo Portugal Gouveia. Lá atrás, tive uma atuação como colaborador de Fernando Casal De Rey, com o conselheiro Jaime Franco. Depois, com o Juvenal, nós contribuímos. É assim. Eu acredito que se, o Pimenta, que foi um dos presidentes mais campeões na história do São Paulo, se ele tivesse ganho, nós iríamos colaborar em nome da instituição para ajudar o São Paulo. Oposição você pode fazer na obrigação de conselheiro, que é fiscalizar, criticar de forma construtiva, equilibrada, mas garantir a governabilidade de quem quer que seja. O Leco é o presidente. Então, ele vai fazer essa transição no estatuto, e nós temos que apoiar, sem prejuízo de uma oposição que deve ser responsável e serena. O que passa para ter uma grande renovação de ideias e pessoas e uma renovação política até na gestão, é uma pacificação. Hoje, o São Paulo vive muita turbulência política e nós precisamos pacificar o São Paulo. O que é pacificar o São Paulo? É ter um projeto alicerçado, onde todos sentam à mesa e discutam o que é melhor para o São Paulo. E tentem uma convergência nessa ideia. Em cima disso, isso não significa que a Oposição não tenha que ser firme, forte, crítica, mas dentro de uma serenidade que garanta governabilidade de uma instituição tão séria como é o São Paulo. Eu já preguei isso no passado e vou continuar pregando. A pacificação é algo que todos têm que sentar desarmados. Temos que pensar menos em grupos políticos e mais num projeto. E aí vale o entendimento, sem o prejuízo das opiniões contrárias, que até é bom para a instituição. A pacificação do São Paulo é algo urgente porque é isso que vem tumultuando e não é a gestão A ou B, já vem tumultuando o São Paulo há muito tempo. Veja bem, o São Paulo tem uma eleição próxima marcada para 2020, estamos em 2018. Temos ainda uma história e o São Paulo sempre foi um time competitivo, precisa voltar a ganhar e conquistar títulos. Eu acredito muito no trabalho profissional que começa a ser delineado pelo Raí, que tem todo o nosso apoio, pelo preparo, pelo o que ele tem de preparo, qualidade no conhecimento no conteúdo de futebol. Eu acho que essa questão mais participativa e democrática, ela tem que vir com pessoas preparadas. Para isso, o São Paulo precisa pacificar, ter uma atuação política, mas não priorizando ela em cima do objetivo comum, que todos nós temos. Todos os são-paulinos que estão lá, têm a mesma intenção, o mesmo objetivo de fazer o São Paulo FC cada vez maior no patrimônio, em resultados, e, principalmente, competições esportivas. Queremos voltar a ganhar e isso depende muito de um entendimento e uma linha na área de futebol, que nós acreditamos muito, que agora está sendo trabalhada.

Quais tuas principais ideias, no caso de uma candidatura à presidência?

Fico feliz de um lado, quando sou lembrado no caso de uma eventual candidatura. Isso até aconteceu na última eleição, onde pessoas queriam que eu saísse candidato. Conselheiros, empresários até, o Abílio Diniz, uma pessoa que eu respeito muito. Acho que o São Paulo sai ganhando quando tem torcedores empresários, conselheiros tão importantes. Mas isso nunca foi a prioridade da minha atuação, até porque eu tenho compromissos profissionais, atualmente. Eu tenho 56 anos e ainda tenho uma missão para fazer nesse mundo publicitário, de marketing, e acho que esse é o objetivo, sem deixar de colaborar como estou colaborando como conselheiro e membro do Conselho de Administração. Portanto, eu acredito que quem quer ser candidato no São Paulo, não pode ter esse objetivo de querer. O candidato não escolhe ser candidato, ele deve ser escolhido. Isso deve ser um panorama natural, que conduz um projeto e ideias. Em cima de ideias, independente de eu ser candidato, gostaria muito que o São Paulo voltasse a ser a referência que foi no marketing, futebol, a ser uma instituição com suas discussões legítimas, dentro do foro adequado, que é o seu Conselho Deliberativo, mas nunca ganhar a imprensa com discussões através de blogs, que isso atrapalha, porque o São Paulo sempre se primou por ser um clube que discutia suas coisas intra-muros no Morumbi. E hoje não. Hoje é muito comum, qualquer coisa que aconteça, é o blog A, B ou C, discute o São Paulo, e pouco se importa se o São Paulo está negociando um contrato, uma parceria, e isso atrapalha. O São Paulo precisa ter no mundo financeiro e econômico, estabilidade até para que você consiga fazer grandes negócios e parcerias para o futuro. Então, eu reitero que fico lisonjeado quando sou lembrado, talvez pelo o que nós fizemos no passado, pela votação como conselheiro nas duas vezes como mais votado do São Paulo, mas eu digo que não sou candidato. Muita gente duvidava na última eleição, dizendo que eu entraria aos 48 minutos do segundo tempo. Eu garantia que se eu for candidato, eu renuncio ao meu cargo como conselheiro. Não sou. Eu tenho a minha prioridade que é hoje, trabalhar na minha área, na minha missão profissional, que ainda tem alguns anos de trabalho pela frente, eu acredito. Mas sem perder de vista, o amor da vida da gente que é o São Paulo. E isso, nós vamos colaborar, independente de cargo. Eu acho que isso é o importante. Ter um projeto, sim, para construir ao lado de tantos conselheiros, sócios e torcedores que realmente amam o São Paulo.

A política do Clube deixou o São Paulo para trás dos rivais e atrapalhou o futebol?

O excesso de atividade política atrapalha. Me lembro que o São Paulo que brilhou na década de 80, 90 e anos 2000, enfim, o São Paulo é cíclico, claro, a gente entende, mas o São Paulo e qualquer instituição precisa de uma tranquilidade e é legítima a discussão política. Mas quando a política, ela entra na questão do dossiê de uma pessoa, na questão de um ato que vai para a imprensa, blog, isso sim tumultua. O futebol não fica alheio a toda discussão do clube. A gente diz, ah, isso não chega no jogador…Chega sim. Hoje, o jogador está ligado com o celular e com as redes sociais em tudo o que acontece, principalmente, no seu clube. Não é importante para o São Paulo, não constrói você ter excesso de discussão política. Ela ocorre primeiro dentro das atribuições de cada conselheiro, diretor. Na questão puramente eleitoral, ela deve obedecer um calendário. Se você tem eleição num ano X, que a eleição seja acirrada naquele momento. Eu sempre falei. Acho que é importante a gente ter o “time” certo para discutir a questão política partidária e as pretensões. Repito. O São Paulo precisa de uma pacificação responsável e não é pacificação que anule opiniões contrárias. Pelo contrário. Nós precisamos ter a pacificação em cima de um projeto, um modelo, onde nós podemos sentar com várias pessoas, com vários segmentos porque tem gente boa de todos os lados e como tem gente que não contribui dos lados. O São Paulo precisa de um lado só e é isso que eu quero discutir com cada conselheiro que o São Paulo tem.

Um presidente remunerado pode ser dispensado por resultados ruins?

Não, não. O estatuto dá condição do presidente ser remunerado, que eu acho que é um avanço porque essa questão do presidente trabalhar e fazer do São Paulo, um bico, ou ele vai fazer do São Paulo uma gestão ruim ou ele vai ter outros interesses. Ele tem que priorizar o São Paulo. Então, ele tendo uma remuneração para sua sobrevivência, acho importante. Ele vai ser questionado em resultados ruins? Sim, mas você não tira um presidente por isso. Isso é uma questão de julgamento que ele pode ter o ônus numa renovação política, mas você tira um presidente por problemas ou atos previstos no estatuto. Claro que o resultado ruim traz um desgaste natural ao presidente e sua diretoria. Você tem que avaliar um presidente pelo seu mandato. O mandato do São Paulo é de três anos e a avaliação não pode ser feita por um, dois anos, sendo um conjunto da sua obra. Depois, ele vai ser julgado pelo que ele fez de bom ou ruim.

Como enxergas o futuro imediato do São Paulo como clube?

Eu sou otimista. Acho que o São Paulo saiu de um imobilismo. São Paulo teve muito sucesso e depois ele se afastou dos seus princípios básicos dentro do futebol, marketing, como time de vanguarda, nós já sabemos. E aconteceu isso mesmo. Com esse estatuto novo, começa a possibilitar que o São Paulo volte ao cenário da competição esportiva, sendo um clube de vanguarda. Nós estamos vivendo exatamente uma transição, de um estatuto antigo que cumpriu seu papel e de um estatuto novo, que requer mudanças a médio e longo prazo. Essa transição deve ser observada por todos os conselheiros para que no tempo certo, possa se fazer ajustes das coisas que não funcionaram bem. A profissionalização não tem volta, a governança de um clube de futebol é algo extremamente necessário e o São Paulo vai dar um passo para isso. Lá na frente, nós saberemos que o São Paulo vai ter muito orgulho de ter tido um estatuto moderno, corajoso, que discuta o futebol, sua área social e diferenciar essas ações dentro de uma gestão e, mais do que nunca, avance para que a modernização não fique apenas nos discursos e tenha resultados práticos. Eu tenho esperança e não tenho dúvida que o sócio do SP e o conselheiro que votou por unanimidade neste estatuto, ele espera o cumprimento fiel do estatuto e os ajustes necessários, mas dentro de um panorama de discussão e equilíbrio.

Eras do Marketing. O “Soberano” foi um erro?

O marketing do São Paulo teve grandes resultados. Claro que sempre ajuda o resultado positivo dentro de campo. Mas também tem que ser pró-ativo. Existe o marketing institucional, promocional e a venda pura de ativos e receitas. Na nossa época, o marketing conseguiu andar em consonância com o futebol e dá para a gente descrever inúmeras ações que fizeram o São Paulo uma referência, ganhando prêmios, fazendo grandes contratos e o futebol também ajudou. É claro que o futebol indo bem, tudo vai bem. Mas as vezes temos exemplos em alguns clubes que o marketing não corresponde a essa evolução do futebol. Essa questão do “Soberano”, muita gente faz confusão. O São Paulo ganhou tudo e ganhou através dos três títulos com o Muricy, o tri-hexa inédito, que a gente brinca. Aí foi feito um filme nos cinemas, algo na época muito inovador e o filme se chamou “Soberano”, para exatamente mostrar que o futebol do SP, naquele momento, foi o soberano em termos de resultados. Mas nunca que o São Paulo assumiu o slogan de forma taxativa. Foi um filme denominado Soberano como poderia ser “Clube da Fé”. Foi uma questão mais comercial de um DVD, mas o que interessa na ação e na prática, todos nós temos que ter a visão de que o SP não pode ter arrogância, prepotência, desequilíbrio. Tem que olhar para o futuro. E talvez isso passe um ensinamento, de quando você tem um slogan de filme, aquilo acaba ganhando o torcedor, as redes sociais. O São Paulo viveu aquele momento, mas deixou de fazer algumas lições de casa, em alguns momentos, na área de futebol, não foi feliz em algumas contratações e saiu um pouco do foco também no marketing e em outras atividades. Por isso, que o momento de agora é uma retomada necessária. O São Paulo precisa voltar a disputar títulos e para isso precisamos ter pilares e um dos pilares é a vanguarda no que ele vai produzir nas suas áreas de execução e gestão e um grande entendimento com situação e oposição responsáveis.

Como atrair mais sócios? Onde fica o Morumbi neste pensamento?

A questão do sócio-torcedor é uma questão que, infelizmente, no futebol o orçamento do torcedor no Brasil, está apertado. Ele compra camisa, paga ingresso, assina o pay-per-view, estacionamento, viaja para ver o time, come seu sanduíche no jogo, compra produtos licenciados e o dinheiro não dá. Quando o time vai mal, ele se torna inadimplente, as vezes, porque a emoção está embutida ou na adesão de um sócio-torcedor ou na regularidade do seu pagamento. Isso é uma realidade no Brasil. Eu acredito que o SP pode dar uma contribuição de ter avanços tecnológicos através de aplicativos, com bem funciona hoje o Uber da vida, o Waze na questão de trânsito e o que revolucionou a compra de ingresso e o SP tem que pensar nisso para que o torcedor possa fazer tudo pelo aplicativo, garantindo sua participação, através do uso do celular. Isso é uma ideia muito comum e o SP precisa dar esse passo. Nós não podemos mais depender de compra de ingressos por um sistema que trava ou ainda de bilheteria física. Hoje qualquer cidadão tem seu celular. Por que não comprar um ingresso pelo celular, uma camisa e ter outras inovações num plano de sócio-torcedor que revolucione a partir daí? E essa é a nossa esperança para que o Morumbi volte a ter um fluxo de pessoas nas arquibancadas, mas também que possa cada vez ter mais vida num estádio que é um patrimônio não só do SP, mas da capital e do país. A pessoa vai, pode assistir um jogo, ir no restaurante, com toda segurança. O Morumbi é um Colosso e vamos trazer mais gente, independente de dias de jogos.

Como conselheiro, quando achas que o São Paulo voltará a ganhar no campo?

Independente de conselheiro, todos nós somos conselheiros e fundamentalmente, torcedores. Eu que vi o São Paulo ganhar os primeiros títulos em 70 e 71, bicampeão paulista com Gérson, Toninho Guerreiro e Paraná. Comecei a ver o SP na década de 60, que foi uma década que o São Paulo estava construindo o estádio e ganhava muito pouco. Mas aquilo me fascinava porque eu sabia que o São Paulo estava preparando uma estrutura no Morumbi, que seria capaz de dar muitas glórias no futuro e foi isso o que aconteceu. Eu estou muito otimista porque a tão sonhada profissionalização no futebol tem acontecido. Raí, Ricardo Rocha e Lugano são pessoas que vivem o futebol. O Raí é uma pessoa extremamente preparada, que acreditamos demais. Primeiro, por ter convivido com ele como atleta e mais recente no Conselho de Administração, onde eu senti in loco e presente com ele, o conhecimento, experiência e participação efetiva dele. Raí no futebol é mais do que um simbolismo, é a esperança de que a gente retome o bom caminho. Isso não é feito do dia para a noite. O Raí assumiu há pouco tempo. A responsabilidade não é só dele, é todo um sistema que ele deve ter condições de implantar. É algo que a gente acredita que a médio e longo prazo, o São Paulo volte a disputar títulos. Acho que já houve uma melhora em alguns jogos, nas semifinais do Paulista, perdemos, com um gol nos acréscimos, mas o São Paulo jogou bem. O São Paulo está mostrando um novo conceito e uma forma de jogar, mais aguerrido, compacto e brigando pela bola. Está muito claro que é um caminho que nos dá esperança de que o São Paulo seja muito competitivo nos grandes campeonatos que nós teremos pela frente.


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