Paulo André esclarece fim do Bom Senso e vê modelo brasileiro esgotado
Alexandre Praetzel
Paulo André foi um dos mentores do Bom Senso, movimento que pretendia mudanças no calendário, gestão e direitos no futebol brasileiro. Foi elogiado por vários profissionais e pela mídia, mas encontrou forte resistência entre os dirigentes. Aos 33 anos, o zagueiro atua no Atlético-PR. Em entrevista exclusiva ao blog, Paulo André apontou o esgotamento do modelo brasileiro e viu dificuldades no posicionamento da categoria no Brasil. Leia abaixo.
Fim do Bom Senso
“Terminou pela falta de engajamento de novos atletas, falta de diálogo com a CBF, falta de verbas para financiar um projeto de advocacy de longo prazo em Brasília”.
Participação no movimento prejudicou a carreira
“Eu não me importo com isso. Tenho orgulho do que fiz e faria tudo novamente. Ganhei mais inimigos do que amigos, é verdade”.
Por que grandes nomes não protestam no futebol brasileiro
“Da mesma forma que a maior parte dos grandes grupos de mídia defendem apenas seus interesses e buscam sua sobrevivência e maior fatia do bolo, a maior parte dos atletas busca garantir seu próximo contrato e as boas relações com os patrocinadores. Se posicionar no país em que vivemos e defender uma ideia é quase um pecado. Falta educação e politização, não só aos atletas, mas à população em geral. Enquanto isso continuar assim, os políticos explorarão e abusarão das nossas riquezas”.
Clubes têm medo de Marco Polo Del Nero
“Cara, os presidentes de clubes têm medo da derrota, da pressão da mídia e da torcida. Eles sabem que esse somatório não lhes permitirá prosseguir no clube nas próximas gestões. Se Marco Polo tem poder de controlar os resultados, não sei. Mas que esse medo de perder o poder os incapacita de enxergar o negócio futebol no longo prazo e acaba por fazer com que eles não se organizem e não lutem por melhores condições para o todo, sem dúvida que sim”.
Modelo de gestão se esgotou no Brasil
“O modelo jurídico dos clubes se esgotou. Não há gestão que vença a ingerência política. Ou lutamos para que os clubes sejam empresas com responsabilidade, ou ficaremos enxugando gelo”.
Ex-presidente Petraglia vê o Atlético-PR campeão do mundo num futuro próximo
“Eu acredito. O Atlético está muito à frente de todos os clubes brasileiros no quesito gestão e inovação. Se a partilha dos direitos de transmissão de TV for mais igualitária e meritocrática, o Atlético conseguirá, sem fazer loucuras financeiras, estar entre os quatro melhores clubes do Brasil, ano após ano”.
Gramado sintético da Arena é uma vantagem do Atlético-PR
“É uma vantagem financeira, sem dúvida. O custo de manutenção é baixo e o estádio pode receber shows à vontade. Esportivamente, não vejo vantagem. É o melhor gramado do país, todos os atletas que vieram jogar aqui, elogiaram. O Palmeiras deve seguir esse exemplo para otimizar sua arena e não prejudicar a qualidade dos seus jogos”.
2017 e aposentadoria
“Estamos conversando sobre a renovação. Me sinto em casa aqui e acredito no trabalho que está sendo feito. O ano que vem tende a ser o último dentro de campo”.
Serás executivo ou treinador
“Essa é a pergunta que me faço diariamente. No momento, estou concluindo a faculdade de administração e finalizando uma pós-graduação em gestão do esporte. Não tenho pressa”.
Saída do Corinthians
“Saí porque não era bem quisto por uma parte da diretoria. Meus planos eram de encerrar a carreira por lá e continuar no clube, mas incomodei muita gente com as questões do Bom Senso. O meu contrato não seria renovado e, por isso, precisei seguir a vida”.
Paulo André ganhou todos os títulos possíveis com o Corinthians de 2009 a 2014. No Atlético-PR, atua pela segunda vez. Começou no Guarani e ainda passou por Le Mans da França, Shangai da China e Cruzeiro.