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Dunga: “Tite está no lugar certo. Brasil tem talento para ganhar a Copa”
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Alexandre Praetzel

A seleção brasileira foi convocada pelo técnico Tite para os dois últimos amistosos antes da lista final para a Copa do Mundo. Entre as novidades, o meia Talisca e o centroavante Willian José. Próximo do Mundial, o treinador vai fazendo testes e observações finais, mesclando o time para enfrentar Rússia e Alemanha.

O blog conversou com Dunga, técnico anterior a Tite. Num bate-papo exclusivo, o ex-treinador opinou sobre o momento do Brasil, os critérios para uma convocação, preocupações, carreira e sua passagem no último ciclo pela CBF. Confira abaixo.

Como você analisa a seleção brasileira no momento? Tem chance de ganhar a Copa do Mundo?

Sem dúvida. O Brasil tem talentos, jogadores com grande experiência. Vai servir muito a última Copa do Mundo, onde o Brasil não teve sucesso, mas mostrou qualidade. Vai servir como grande ensinamento, esses jogadores irão querer mostrar ao mundo sua capacidade.

Como fica a cabeça do técnico na penúltima convocação antes da Copa? É um momento de escolhas, complicado para o treinador?

É, porque você tem que escolher, deixar fora alguns jogadores, bons talentos, tem que ter um grupo formado. Mas, por outro lado, você já vai preparado com as observações que talvez quem veja de fora não tenha. Você que está dentro tem a observação do dia a dia, o comportamento, rendimento, as opções que os jogadores podem te dar naquele momento. Então vai muito tranquilo a esse respeito.

Vale a pena você pegar um, dois jogos e fazer uma última observação com Talisca e Willian José?

Depende daquilo que o treinador está pensando. Tem uma ou outra posição que ele queira experimentar, dar oportunidade a esses jogadores, mas o que vai valer mesmo é a última convocação.

O que aconteceu em suas duas passagens como técnico da seleção e que você não repetiria?

Ah, depois fica fácil você dizer. Tem que ver no momento, na situação que você está ali, que tem que tomar decisão. Alguns percalços, problemas que acontecem, em algum momento você quer mudar tudo e não consegue, quer reestruturar e não pode. Mas depois isso fica muito fácil porque daí está com a cabeça muito mais fria, tem toda a experiência daquilo que passou. É como na vida, né. Você não estaria aqui se não tivesse cometido erros anteriores e não tivesse refeito.

Situação do Neymar preocupa, podendo voltar às portas da Copa do Mundo?

O Neymar terá tempo de preparação, quem sabe um mês. E aí tem a questão do pessimismo, o cara negativo. O negativo acha que está tudo errado, o otimista vai dizer “bom, ele não vai se desgastar tanto no PSG, vai entrar com muita vontade de jogar e terá um tempo de preparação ótimo”.

Por que você não voltou a trabalhar como técnico depois da seleção?

Eu tenho a vida tranquila em Porto Alegre. A minha família, a vida toda, foi em todas as partes onde eu estive. Japão, Alemanha, China. E agora, para mim, como ser humano, é muito mais importante dar uma estrutura para os meus filhos se realizarem profissionalmente do que eu próprio. A hora que pintar alguma coisa que eu achar que é interessante, que é bom para mim, vou trabalhar. Mas isso não está em primeiro lugar na minha vida, agora.

Os clubes têm te procurado aqui no Brasil?

Para dizer a verdade, muito mais fora do que dentro do Brasil. Tenho muitas ofertas de fora do Brasil, mas no momento não achei nada interessante ainda. Prefiro dar um suporte para que meus filhos se realizem nas suas profissões.

A gestão atual da CBF foi injusta com você?

Não, acho que não tem isso de justa ou injusta. É o momento, né. Tem momento que entre rolar minha cabeça e a tua, vai rolar a tua. E aí tem que estar preparado para isso.

Você acha que a Copa vai apresentar algo novo, taticamente?

O novo é quando você tem o talento que dribla e desequilibra. Hoje é muito bom para quem comenta falar em números, 4-4-3, 3-4-3, 4-5-1, não sei o quê. Mas isso aí, quando tiver um cara com talento, acaba com todos teus números, com toda tua questão tática.

É bom ter uma equipe organizada, trabalhar com tua equipe na hora de defender, atacar, mas é muito melhor quando você tem o talento. Jogadores que conseguem ter leitura do jogo, que estão num bom momento na hora da Copa, que estão em boas condições físicas, sem nenhuma lesão, aí as coisas se tornam mais tranquilas para você realizar isso.

Número, 4-4-2, o cara do meio foi para a frente, já não é mais 4-4-2, é 4-3-3. O futebol é dinâmico. Não tem a nomenclatura. É bom para você conversar com o público, explicar. Mas, durante o jogo, você vai jogar com todos os sistemas.

Tite é um bom treinador? Ele está no lugar certo, hoje?

Está, sem dúvida nenhuma. Tem um currículo dentro do futebol brasileiro, assim como outros treinadores também têm. É o momento dele, então tem que aproveitar.

Você aponta algum adversário mais perigoso para o Brasil?

Acho que a Argentina, porque quase ficou fora da Copa, não tem mais nenhuma responsabilidade e tem [bons] jogadores. Isso é o mais importante. Se o treinador conseguir orientá-los… Depois, tem as seleções tradicionais, como a Alemanha, que sempre tem uma regularidade.

Infelizmente a Itália ficou fora. Isso é bom, porque quando a gente conversa, fala que a camisa não manda se não tiver jogador dentro de campo. Mas, se tiver [bom] jogador, aí sim a camisa comanda. Estamos acostumados no futebol a falar sempre as mesmas coisas. “Ah, a camisa…” Senão o Inter, o Grêmio e tantos outros grandes não teriam caído. O que manda é o futebol, é o momento dentro do campo.

O futebol brasileiro está muito abaixo dos demais?

Se nós colocarmos os clubes, estamos abaixo. Só que temos que ver que os caras [times europeus] vêm aqui e pegam os melhores sul-americanos. Se nós pegarmos os melhores sul-americanos e trouxermos para o Brasil, fica maravilhoso. As pessoas querem que o Brasil seja uma máquina de produção de craques a todo o instante.

Um erro que o Brasil comete é o jogador subir com 17, 18 anos. Antes, quem subia era exceção. Hoje virou uma regra e os jogadores não estão prontos, fisicamente, tecnicamente, mentalmente. A gente perde muitos jogadores de talento porque coloca eles para jogar.

O Grêmio teve o Lincon, agora. Era uma promessa, mas a gente achou que com 17 anos tinha que jogar. E ele não estava pronto. O jogador de futebol é como piloto de Fórmula 1, tem que ter dez ou mil horas de trabalho para estar pronto.

Tem as exceções, os saudosistas vão dizer. Mas o Pelé era o Pelé, o Zico era o Zico. Mesmo o Zico começou com 23 anos, não com 18. Isso que a gente tem que rever um pouco. Exceções são uma coisa, regras são outras.

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Nota do blog: Dunga comandou a seleção brasileira de 2007 a 2010 e de 2014 a 2016. Foram 80 jogos e 55 vitórias. Como jogador, foi capitão do tetracampeonato mundial, nos Estados Unidos, em 1994.

 


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