Carille sonha com dinastia no Corinthians. Forma de jogar é o segredo
Alexandre Praetzel
Fábio Carille vai se consolidando como o melhor técnico do Campeonato Brasileiro. A campanha invicta do Corinthians impressiona críticos e adversários, com 47 pontos conquistados em 57 disputados. Para muitos, título encaminhado para o time, mas Carille pede calma. Nesta entrevista exclusiva ao blog, Carille mantém a humildade, fala sobre os critérios do seu trabalho e sonha com uma dinastia no Corinthians. Confira a seguir.
A pergunta que restou sobre o Corinthians. O time vai perder no Brasileiro?
Vamos fazer de tudo para que a gente continue desse jeito, com bastante trabalho, nos preparando a cada jogo, a cada decisão, para que a gente continue assim, sem perder, procurando jogar bem, vencer. Essa é a nossa busca do dia-a-dia.
Ser campeão invicto é uma realidade ou algo muito difícil de acontecer?
Muito difícil. Não é impossível, se ganhamos um turno. Mas a gente passa a ser o time a ser batido, olhado diferente pelos adversários. É muito difícil, mas não é impossível. Vamos trabalhando dia-a-dia, jogo a jogo, para ver até onde a gente vai.
Qual o segredo do trabalho em oito meses, depois de você ter sido tratado como aposta, em janeiro?
Eu acho que a grande sacada da comissão técnica, nós nos apresentamos dia 03 de janeiro e os atletas, dia 11 de janeiro. Então, ali com as contratações, o elenco que a gente tinha, a gente definiu o quanto antes a forma de jogar. Nosso primeiro treino com bola já foi com uma ideia de jogo. Então, hoje os atletas, sai um, sai outro, quem entra em campo, sabe realmente o que tem que fazer, com e sem bola. Por isso, é muito importante para todos os clubes, no início da temporada, já ter um grupo definido e colocar todo mundo para trabalhar com as mesmas ideias. Acho que isso é o grande motivo para a gente estar fazendo esse ano maravilhoso.
Muitos treinadores jovens acabam não tendo sequência nos trabalhos porque alteram demais suas ideias. Você corre o risco de entrar para esse grupo?
Não. Não quero. Dificilmente, vocês vão ver algo de diferente, algo que eu não treinei. Minhas coisas são muito definidas. Aprendi isso também, que vale ter as coisas bem definidas e quando você tem uma equipe muito organizada, com todos os jogadores muito atentos e determinados a fazer, você está mais perto da vitória. Então, espero que minha carreira seja assim, com ciência daquilo que o grupo pode me dar e daquilo que eu posso cobrar do grupo, para que eu consiga me manter entre os melhores do Brasil.
Você acredita no discurso de técnicos como Levir Culpi e Cuca, de que não dá mais para buscar o Corinthians ou não?
De alguns treinadores, se eu estiver falando que eu não estou acompanhando, eu acredito. Vindo de Levir e Renato Gaúcho, se eles estiverem falando isso, eu não acredito. Mas ficou difícil para Atlético-MG, Flamengo com 18 pontos atrás, também ficou difícil. A gente tem que ser realista. Não é fácil buscar num turno, essa diferença. Não é impossível, mas a gente sabe que é muito difícil. Mas essas equipes que estão oito, dez, 12 pontos atrás, têm muita coisa para acontecer.
Costumo dizer que com dez Romeros, é possível ser campeão. Você concorda com isso, que Romero conseguiu superar qualquer adversidade no Brasil?
Concordo. É um jogador que muito se fala sobre a entrega dele, porém, é um cara que tem um bom passe. Lembro de gols aqui, muito rapidamente, o primeiro gol contra a Ponte, na final do Paulista, que ele acha o Jô e o Jô coloca o Rodriguinho na cara do gol. Os dois gols contra o Palmeiras, agora, no estádio do Palmeiras. Participação dele no pênalti do Arana e no lançamento para o gol do Arana. Pensando rápido assim. É um cara com muita entrega, que o corintiano gosta, mas que também tem muita técnica, sabe finalizar, está jogando um pouquinho longe do gol, mas a gente vê no dia-a-dia, ele tem um poder de finalização. Concordo. Com dez Romeros, você fica com uma equipe muito forte, consistente, com qualidade técnica também.
Você tem conversado com Tite? Ele te elogiou pelo trabalho, deu alguma orientação, ou imagina que você tem luz própria, não entra em detalhes?
Eu conheço muito bem. Foram cinco anos e meio, trabalhando com ele. Nos falamos sempre, mas não se fala sobre futebol. Família, como você está. Eu também não gosto de perguntar porque sei qual vai ser a resposta dele. Fábio, vai ser difícil falar, porque quem tem está no dia-a-dia, é você. Mas ele me conhece bem. Considero um pai dentro do esporte, sou abençoado por ter trabalhado com ele e ter aprendido bastante. Conversamos bastante, mas sobre futebol, muito pouco.
Atlético-MG e Flamengo tentaram te contratar no ano passado?
Saíram matérias agora, que eu vi, mas não chegou nada a mim. Acho difícil que isso tenha acontecido. Na fase que o Corinthians está, nosso momento, mesmo que viessem atrás, dificilmente você vai sair. Você não pode quebrar(contrato). Eu sou um cara que dificilmente eu vou quebrar. Aconteceu sim antes do jogo contra o Grêmio, uma reunião com um pessoal da China, onde fiquei 15, 20 minutos. O cara queria me conhecer. Eu fui até ele, para ir agora, falei esquece, não saio desse sonho, porque é um sonho estar dirigindo o Corinthians. Tem muita coisa ainda para acontecer aqui no Corinthians e futebol brasileiro, do jeito que eu penso. A única coisa que eu participei foi essa questão da China e de imediato já cancelei a conversa.
Pode surgir uma ''Era'' Carille como houve uma Era Brandão e Era Tite no Corinthians?
É meu sonho hoje, cara. De ficar muito tempo. Com certeza, cada ano que passar, vou estar mais experiente. Estou num processo de aprendizado muito grande e quero aprender cada vez mais, ainda sendo técnico, tomando decisões, errando, acertando. É assim que a gente aprende. Sou uma pessoa muito tranquila e consciente de tudo que acontece. Meu sonho hoje é ficar por muito tempo no Corinthians, fazer um trabalho a longo prazo, participar de contratações futuras, estar envolvido mesmo para que a gente fique bem forte. Esse é meu grande sonho hoje.
Pode sair algum jogador na janela de agosto?
Acho difícil. Alguns dias atrás, eu tinha muito medo desta questão, mas hoje do jeito que a diretoria está trabalhando, vai ser muito difícil de acontecer. Não é impossível, mas estão trabalhando para que isso não aconteça.
Pablo continua?
Até dezembro, sim. Agora, não sei. Estou vendo aí que houve acertos, depois voltaram atrás, algumas coisas aí, mas até dezembro, com certeza, ele permanece.
Se o Corinthians não for campeão, o que você imagina que possa acontecer?
Nós somos sempre cobrados por resultados. Não imaginava terminar o turno com 47 pontos, não imaginava. Falo para todo mundo, um time totalmente desacreditado no início do ano. Mas tem um segundo turno que tudo pode acontecer. A gente está trabalhando muito para nos mantermos na frente, mas a gente sabe que as coisas não acontecem como a gente quer. Nos preparamos para coisas grandes, mas muitas vezes as coisas não acontecem. Decepção? Não vai acontecer porque a gente trabalha demais e sempre de cabeça erguida. Uma vaga na Libertadores, buscar isso o quanto antes, para depois a gente buscar e confirmar esse título, mas tem muita coisa para acontecer.
Teu trabalho pode virar parâmetro a clubes que estão gastando dinheiro, sem resultados?
Pode sim e espero que isso aconteça no futebol. Falando de nós, profissionais técnicos, talvez isso vá dar muita polêmica, mas eu não tenho problema nenhum em falar. É muito fácil você ficar pedindo contratações ao invés de olhar para o seu grupo e trabalhar com aquilo que você tem. A gente vê hoje. Chega jogador, pede jogador e muitas vezes você tira a moral de quem está ali com você, com quem você pode contar no dia-a-dia. Foi isso que eu fiz. Eu sabia das condições do Corinthians, que tinha que subir bastante garotos e me fechei dentro de campo e trabalhei dentro de uma ideia. Pode acreditar. Gostei muito da entrevista do zagueiro Felipe, esta semana, onde ele fala que o treinamento pode mudar um jogador, um jogador que trabalhou até os 20 anos e eu acredito demais nisso. Treinamento individual, coletivo, dá resultados. Falar que vai ser campeão, é muito difícil. São 20 equipes que se preparam, mas que vai ser um trabalho coeso, de muita organização, isso dá. É só ir para o campo, se fechar com aquilo que você tem e trabalhar bastante.
Chegará mais algum reforço? Zagueiro Emerson Santos do Botafogo?
A diretoria tem trabalhado. Não sei se chega agora. A gente tinha muita preocupação na questão do Balbuena, de sair, de pensar até no futuro, se o Pablo não continuar no ano que vem, a gente já ter alguém no grupo para trabalhar e já chegar o outro ano. Mas estou vendo que isso só deva acontecer no final do ano. Estamos trabalhando ainda, nem que venha da Série B. Você perde o Pablo, o Balbuena pode ir para a seleção, o Léo Santos tem idade de seleção Sub-20, a gente não pode ficar sem jogador no setor por ali. Bem provável que sim.
O Corinthians folga neste fim de semana e volta a jogar apenas dia 19 de agosto, recebendo o Vitória, na Arena Corinthians.