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Arquivo : racismo

Tinga agradece Cruzeiro por chance e relembra racismo sofrido na rua
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Alexandre Praetzel

Paulo César Tinga encerrou a carreira de jogador em 2015 e preparou-se para assumir um cargo executivo em um clube de futebol. O Cruzeiro, seu último time, apostou nos seus estudos e postura, transformando-o em gerente de futebol. No dia em que completa 39 anos, Tinga conversou com o blog com exclusividade sobre o novo desafio na diretoria do Cruzeiro, gestão, relacionamento com jogadores e racismo. Acompanhem este ótimo bate-papo, abaixo.

Desafio como gerente

“Para mim é um desafio que eu projetei para minha carreira. Fiquei dois anos depois de encerrar a carreira, me preparando para isso. Estou feliz no clube que me deu a possibilidade de encerrar como jogador e está dando a oportunidade de iniciar uma nova função. É um fator emotivo, de reconhecimento, de gratidão. Tenho alegria muito grande por estar com o presidente Gilvan. Apostou agora como apostou quando eu estava encerrando a carreira de jogador. Graças a Deus estou iniciando em um clube extremamente vencedor”.

O que espera encontrar

“Eu tive uma oportunidade de poder viver dentro de campo três décadas diferentes. Meados de 90, 2000, 2010 até 2015, quando parei de jogar. Isso me fez ver o futebol de algumas formas. Trabalharei diferente e o que a gente sempre vai encontrar é a parte humana. Todos são seres humanos passíveis de bons e maus momentos. Acreditando em tudo que eu vivi dentro de campo. Hoje trabalho para o protagonismo dos jogadores e comissão técnica. Hoje sou funcionário trabalhando para o clube. Entendo minha função e trabalho para que todos possam ter o melhor desempenho. Futebol precisa de profissionais que viveram o futebol. A maioria dos clubes do mundo tem ex-atletas que se prepararam. Espero muito trabalho como foi minha vida inteira. É o mínimo que eu tenho que fazer por este clube, pelo carinho, idolatria da torcida. Cruzeiro me deu oportunidade para ser campeão e espero ser feliz novamente em termos de conquistas”

Mano Menezes

“Primeiro pelo fato de estar iniciando, é muito importante começar com um treinador experiente, vencedor e que tem princípios de honestidade, coerência, seriedade. Acaba sendo um fator muito importante para quem está iniciando. Isso me dá uma tranquilidade maior. Vou aprender muito com ele. Já conversamos bastante. O fato de ser o Mano me deu mais confiança. Pelo mesmo caráter, mesmos princípios, facilita muito no início”.

Contato com jogadores

“Vejo isso como algo natural. Depende de como você tratou sua carreira. Quando estava parando no Cruzeiro, sempre tive uma condução do grupo natural. Quando tinha que falar sim, falava sim e o contrário a mesma coisa. Quando você tem princípios, você tem que liderar pregando o que você faz. Me traz facilidade para trabalhar porque conheço a maioria dos jogadores. Não foi à toa que fomos bicampeões brasileiros e ganhamos estadual. Sempre falo que fui campeão e não era titular. Sempre me disseram que eu poderia voltar e trabalhar aqui. Entenderam que eu me posicionava em prol do grupo e da instituição no objetivo de sempre ganhar. Quando tem um perfil definido, não tem problema. Se alterar isso, fica difícil. Todo mundo me conhece, a minha maneira de ser. Tenho a plena convicção de o protagonismo é dos atletas e comissão. Sou um membro da diretoria e trabalho em prol do futebol. Para estar bem, o futebol precisa estar bem também. Vou trabalhar para o futebol ser o melhor. Vejo como um plus, sem dificuldades”.

Queda técnica do Cruzeiro

“Não é fácil você ganhar dois brasileiros na mesma gestão. A gente vê clubes com anos sem ganhar o Brasileiro. Gestão teve ainda um estadual e um vice da Copa do Brasil. Natural que haja falta de títulos e cobranças. Acreditamos que voltaremos a brigar pelas posições em cima. Está no DNA do clube. Está sempre cotado para chegar. Este ano manteve o trabalho e a comissão técnica com aproveitamento acima de 60%, em duas oportunidades. Agora, vai conseguir iniciar a temporada e mantivemos o elenco de muita qualidade. Time tem nomes vencedores, maduros e uma juventude com seu valor. Se fosse vice-campeão no terceiro ano, seria considerada uma queda. Estamos prontos para retomar, com o torcedor nos ajudando, sempre lotando o Mineirão. Isso a gente quer resgatar de novo”.

Futebol brasileiro

“Futebol está encontrando um momento para retomar algumas coisas e está melhorando. Vemos ex-jogadores se preparando, estudando. Conversei com Torres do Flu, Elano do Santos. Isso é muito bom. Futebol está se reestruturando para melhor no Brasil”

Gestão

“Não sei se é atrasada ou falta atitude para mudar. A gente sabe o que tem que fazer. Deixar de agir com emoção como o torcedor. A mudança precisa passar por um todo. Todo mundo tem que contribuir um pouco. Nós, gerentes, independentemente da nomenclatura. O trabalho futebol é o que tem a maior dependência da parte humana. Não é uma fábrica que depende de máquinas como uma produção. É parte emocional, física, técnica. Na hora de avaliar, avaliamos como máquinas. Não podemos rotular jogador que não foi bem e não será melhor. Viajando mundo afora, futebol é mais simples do que a gente tem buscado. Quando você vê as pessoas dirigindo futebol com emoção, alguma coisa pode dar errado. Entender de futebol muita gente entende, mas decidir é muito diferente. A gestão precisa fazer o que tem que ser feito. Às vezes a gente vê clubes grandes perdendo na maioria pela política. A pressão externa começa na política. Quando quiser ir bem na instituição, tem que saber que futebol é uma coisa, sem política. Quero deixar meu legado. Decidir o melhor, às vezes é diferente do que pensa o público. A gestão precisa passar por isso. Cada um que entra não tem continuidade, chega com amigos. A imprensa também. Depois de quatro derrotas, querem a troca do treinador. Muitas vezes falamos de Europa e então vamos copiar a Europa em tudo. Muitas vezes contratamos nomes por cinco anos e com seis meses eles já não servem mais. O jogador é um ser humano como todos e não podemos decretar que é má pessoa por uma ou outra situação. Não podemos dizer que é um mau gestor por uma decisão ruim. Tem que ver no geral. Quero chegar no futebol para acrescentar, não para inventar a roda. As raízes das coisas são humanas. Quero respeitar as pessoas, funcionários. Cuidar também na hora de descartar alguém. Não pode misturar como torcedor. Há um erro e não serve mais. Vou cumprimentar o jogador quando ele acertar ou errar. É simples. Vou trabalhar como a minha vida. Cobrando quando tem que ser cobrado. Jogador sabe qual o seu dever”.

Thiago Neves

“A gente sabe que é um jogador com talento incrível. Com certeza, teve vários clubes interessados. O fato dele decidir pelo Cruzeiro foi interessante porque acredito na vontade do jogador. Pela qualidade do Thiago Neves e de vários jogadores do elenco, é um jogador que quis vir para o Cruzeiro. Importante ele ter decidido vir. Cruzeiro sempre foi um clube que atraiu os jogadores. CT, estrutura, organizado, grande estádio como o Mineirão. Como gestor, o clube é superior a qualquer nome. Dá vontade dos jogadores estarem no clube. Mostra uma maturidade do Thiago ter nos escolhido. Jogador quando entra na idade madura de 28 a 32 anos, é a melhor idade. Ele é tudo, novo, experiente, vaiado, já ganhou, perdeu. Ele decide por tudo, não só pelo financeiro. A gente fica muito feliz como gestor e torcedor em ver o Thiago no Cruzeiro com um grupo talentoso e de personalidade”.

Racismo

“Nunca me preocupou. Situações aconteceram comigo e lidei da minha forma. O que mais me machucou foi não ter sido chamado de macaco. O que mais me entristeceu foi a pessoa atravessar a rua quando me via, achando que eu iria roubar esta pessoa. Uma vez, logo quando eu parei de jogar, conversando com um diretor de futebol ele disse que eu entendia do assunto, mas pediu para eu cortar meu cabelo. Pô, isso me marcou. O cara me elogiou, mas queria que eu cortasse meu cabelo. No Cruzeiro, seu Gilvan, seu Beneci, nunca me pediram para cortar o cabelo e outras coisas. Sempre disseram que deveria voltar ao Cruzeiro. As pessoas pré-julgam de algumas formas, mas eu agradeço muito o Cruzeiro por apostar no meu conteúdo e não na minha pele ou visual. Sempre houve um entendimento que eu poderia contribuir do jeito que eu sou”.

Tinga vestiu a camisa do Cruzeiro de 2012 a 2015, conquistando o bicampeonato brasileiro. Ainda foi campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio, em 2001, e campeão da Libertadores da América pelo Inter, em 2006 e em 2010. Pelo colorado, também foi Campeão da Recopa em 2011 e campeão Gaúcho em 2011.


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