Nilmar vê Santos com time para ganhar a Libertadores e buscar o Corinthians
Alexandre Praetzel
Nilmar voltou ao futebol brasileiro, depois de duas temporadas no Qatar e Emirados Árabes. Aos 33 anos, aceitou o convite do Santos para mostrar que ainda tem bola para ser titular de um grande time do país. Nilmar começou no Inter e foi campeão brasileiro pelo Corinthians, em 2005. Após alguns problemas clínicos, já fez sua estréia e espera ajudar a equipe a conquistar a Libertadores da América. O blog entrevistou Nilmar com exclusividade sobre a realidade brasileira, a escolha pelo Santos e o futuro na carreira. Confira a seguir.
Como vês o nível técnico do Campeonato Brasileiro, após um tempo no exterior?
Acredito que vem evoluindo pela fase que os clubes vivem hoje, não vendem jogadores como vendiam antes, jogadores estão retornando ao futebol brasileiro, investimento está sendo grande em alguns clubes e vem crescendo. Acredito que, quando eu iniciei, muitos jogadores saíam muito cedo. Hoje está sendo diferente, estão repatriando muitos jogadores e a qualidade está boa, no meu ponto de vista. Claro que a gente ainda peca um pouco a nível europeu, mas o nível melhorou bastante.
Você acha que o Santos tem time e elenco para buscar o Corinthians e o título da Libertadores?
No futebol, a gente vê tantas coisas acontecerem…Claro que o Corinthians tem uma vantagem, até mesmo anormal no Brasileiro. Acho que nunca um clube terminou o primeiro turno com tanta diferença de pontos, mas enquanto há chances, a gente não pode desistir não. Se o Corinthians tiver uma sequência grande de derrotas, coisa que a gente acha difícil pelo que vem fazendo, pode deixar escapar ainda e o pessoal que está atrás, pode encostar para dar uma animada e uma valorizada no campeonato porque ficou um pouco chato, 12 pontos na frente, antes de terminar a competição. Como eu disse, no futebol a gente já viu de tudo e pode ter uma reviravolta aí. Todos acham difícil, mas a gente não pode desistir não. Na Libertadores, a campanha está sendo fantástica, até agora, Está invicto, claro que agora na fase de mata-mata, já conseguiu passar pelo Atlético-PR, e tem grupo, elenco, time, acredito que em jogos de mata-mata, têm que chegar bem preparado e cuidar todos os detalhes para não deixar escapar. É bem diferente do Brasileiro, se você perde, tem tempo de recuperar, mas nesse tipo de competição você tem que estar com o nível de atenção muito elevado e o emocional muito bom, também, para conquistar esse título que todo mundo quer.
Sempre tiveste muito talento. Até que ponto as lesões impediram uma carreira maior em grandes clubes?
Na verdade, as lesões que eu tive, fazem mais de dez anos. Me atrapalharam no início, quando retornei delas. Falta de confiança, aquela coisa de você voltar a jogar futebol, desde muito tempo parado. Você tem um jogador muito acostumado a jogar e ficar seis meses sem atuar, é muito complicado no início. Mas eu superei isso e fiz uma carreira muito boa, aqui mesmo no Brasil, no Inter. Depois, tive passagens pela Espanha, Qatar, Emirados. Felizmente, nunca tive um problema mais sério de lesões e consegui ter uma carreira boa, até hoje, no momento. Mas, claro, naquele momento, com 21 anos, as duas lesões que eu tive, foram bastante difíceis para mim.
Por que você escolheu o Santos, no retorno ao Brasil?
Na verdade, o Santos me escolheu e eu acabei escolhendo o Santos, pelo fato das pessoas se interessarem e ser o clube que é. Acredito que é um clube muito sério, que tem história, que não tem comentário para fazer. Respeitado no mundo todo e ter a oportunidade de voltar a jogar num clube como o Santos, está sendo sensacional. Estou bastante motivado e confiante que vai dar tudo certo.
O que precisa mudar no futebol brasileiro para voltar a termos mais qualidade?
Aquilo que todos sabem, né. O pessoal de fora(risos). Acredito que a gestão está um pouco atrás. Lá fora, eu sei como é, e essa parte tem que se profissionalizar um pouco mais para que o futebol possa crescer. Tem que começar lá de cima, esse é o ponto ideal aí para que o futebol volte a ser o que sempre foi e ser respeitado. Agora, com a volta do Tite à Seleção, a Seleção começou a mudar um pouco nossa imagem lá fora.
Você acha que o Lucas Lima deve permanecer no Brasil ou buscar uma carreira no exterior?
É difícil dizer. De fora, cada um tem uma opinião e só o atleta vai saber o que é melhor para ele e as pessoas que trabalham com ele. Pelo pouco tempo de convívio com o Lucas, é um cara que é bem consciente das decisões dele e tem potencial para jogar em qualquer clube. Acho que dispensa comentários sobre isso. Claro que eu, chegando agora, como atacante, gostaria de jogar com ele, mas aí a gente tem que respeitar. Já estive na situação dele também e a decisão a ser tomada, não é fácil. Acredito que ele é inteligente o suficiente para tomar a melhor decisão.
Quais as principais diferenças entre os trabalhos de clubes e treinadores estrangeiros com os profissionais daqui?
Na verdade, já se inicia com o planejamento. Lá fora, você joga menos jogos. Você tem um calendário que já sabe no início da temporada, onde você vai jogar, quando, horário. Não tem aquela coisa de mudar do nada, então você já faz um planejamento. Tem a questão do torcedor, o carnê, que o pessoal, antes de começar a temporada, já tem seus assentos, seus lugares. Então, essa parte aí, eles estão na frente da gente. Pela cultura do futebol, aqui a gente não valoriza muito o treinador. O treinador perde um, dois jogos…Essa cultura nossa já está chegando lá também porque quando joguei na Espanha, também, estava se iniciando isso, treinadores saindo no meio da temporada. Lá, infelizmente, chegou isso, mas bem diferente daqui. Acho que é uma falta de respeito com o profissional, porque o cara é contratado, faz um ano de contrato, perde dois, três jogos e infelizmente acaba saindo, jogando toda a responsabilidade em cima do treinador. A gente costuma dizer que é mais fácil mandar um embora, do que 30 jogadores. Isso tinha que ser revisto e treinador brasileiro ser mais valorizado, como a gente valoriza o pessoal de fora, quando vem para cá.
O que você pretende fazer, quando deixar o futebol? Tem algo em mente?
Infelizmente, não(risos). Na verdade, ainda não pensei nessa parte do que eu vou fazer. Treinador, essa parte, eu não tenho perfil, não penso não. Mas por ter vivido muitos anos no futebol, possa aparecer alguma oportunidade para continuar no meio, mas a princípio, não tenho nada planejado. Estou ainda com 33 anos, então tenho que pensar um pouco. Acredito que no momento que para, você vai curtir um pouco a família e você acaba vivendo o futebol muito intenso. Quando eu parar, vou curtir a família e depois ver o que vai acontecer.
Nilmar fez apenas duas partidas pelo Santos, mas deverá ser mais aproveitado pelo técnico Levir Culpi, até o restante da temporada.