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Carille é muito bom, mas foi muito mal com as palavras
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Alexandre Praetzel

Gosto muito de Fábio Carille. Acho que ele é o melhor técnico do Brasil. Chegou ao cargo no Corinthians, cheio de desconfianças, e mostrou toda sua capacidade. Montou um time sem nenhum grande craque e foi campeão paulista com sobras e brasileiro com muito trabalho e eficiência, atropelando os adversários. Em 2018, repetiu a dose no Paulista, mesmo com algumas mudanças no elenco. Definiu uma forma de jogar e ainda encontrou variações. Já classificou o Corinthians para as oitavas da Libertadores e quartas da Copa do Brasil. Na Série A, mantém a candidatura ao título. Todos gostariam de contratá-lo e Carille vai escolher onde trabalhar no Brasil, pelos próximos dez anos. Justo reconhecimento.

Agora, Carille também erra, como todo ser humano. E errou na entrevista, depois do empate contra o Sport, em Recife. Afirmou que “grande parte da imprensa mente” sobre o interesse do Al Hilal da Arábia Saudita. Generalizou e fez algo que os próprios treinadores odeiam, quando acontece com eles. É só dar os nomes de quem mentiu, Carille. Se não, vejamos.

– O interesse do Al Hilal foi divulgado por um jornal árabe;

– Jornalistas brasileiros foram atrás e confirmaram com pessoas próximas a Carille, que o interesse era real;

– Dentro do Corinthians, nomes da cúpula já comentavam a chance de perdê-lo e avaliavam alternativas para o cargo;

– Em nenhum momento, seus representantes desmentiram qualquer situação e ainda confirmaram que os valores sugeridos eram irrecusáveis;

– O pai de Carille revelou que o filho admitia a chance de sair e que havia muito dinheiro envolvido;

– O próprio Carille brincou com a situação de que havia recusado um caminhão de dinheiro, mas dois, seria diferente;

– Disputar um cargo com outro profissional é absolutamente normal. Se Carille não foi escolhido, segue a vida e mantém o trabalho no Corinthians. Ponto final.

Carille preferiu atacar a imprensa. É um direito dele. A imprensa erra bastante e precisa admitir e corrigir erros. Agora, nesse caso, não houve nada de errado. E outras propostas virão e a imprensa vai atrás. Afinal, Carille é cobiçado pelo seu trabalho e competência. Na relação com a imprensa, precisa melhorar.


A arte de execrar ou “endeusar” um jogador no Brasil
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Alexandre Praetzel

Uma vez, durante um debate esportivo de rádio, em Porto Alegre, papo vai, papo vem, decretei que um jogador “não jogava nada”. A frase definitiva ecoou com críticas à minha opinião. Horas mais tarde, refletindo, vi que era um erro, mesmo que considerasse o atleta em questão, um profissional menos qualificado que os demais. E mudei a postura nas análises, em 25 anos de jornalismo esportivo.

Acho que, com o advento das redes sociais e todo mundo com teses, observações e críticas em tempo real, precisamos ser muito mais cautelosos e pacientes. Hoje, uma contratação de um clube é avaliada em oito ou 80. Não existe mais meio termo. O cara chega com expectativa, é tratado como grande reforço e precisa resolver em 90 minutos. Não há mais tolerância, calma e até respeito pelo trabalho. Se fizer um gol e um grande lance, pronto, é um “monstro”, joga muito, novo craque e tal. Se perde um gol feito, chuta mal ou tem duas ou três atuações ruins, não serve mais. Ficou muito difícil entender tanto totalitarismo. Acredito que a gente deva se transportar para situações parecidas no nosso dia-a-dia. Será que gostaríamos de conceitos iguais ou parecidos? É hora de humildade e critérios nos comentários. Menos julgamentos e mais justiça. Abaixo, cito jogadores execrados e endeusados.

Borja – chegou agora. Está sendo detonado, com poucas oportunidades e longe do estilo em que jogava na Colômbia. O custo da negociação está determinando se ele é bom ou não, infelizmente;

Pato – empilhou gols no São Paulo. Sempre teve qualidade, mas foi execrado, após errar uma cobrança de pênalti pelo Corinthians contra o Grêmio, na Copa do Brasil;

Fred – segue como grande centroavante. Virou “cone”, depois do fiasco do Brasil, na Copa de 2014. Hoje, seria o 9 de qualquer equipe;

Casemiro – era chamado de “mala” e “mascarado” no São Paulo. Em um ano, não servia para o tricolor. Pode ser bicampeão da Champions League pelo Real Madrid, neste fim de semana, como titular absoluto;

Jonas – foi chamado de o “pior atacante do mundo” porque errou um gol. Sempre foi um atacante muito bom. Já foi convocado para a Seleção Brasileira e é destaque do Benfica de Portugal;

Keirrison – estourou no Coritiba e virou o ‘K9″ no Palmeiras. Negociado com o Barcelona, desandou e nunca mais foi o mesmo, rodando por vários clubes. Teve várias lesões e um drama pessoal. Hoje, está no Arouca no Portugal;

Leandro Damião – encheu os adversários do Inter, com gols marcados e atuações excelentes. Negociado ao Santos por R$ 42 milhões, virou um “mico” e foi parar na justiça contra o clube.

Pequenos exemplos de um lado e de outro. Em raríssimas vezes, temos razão no conceito final, mas nos equivocamos com a grande maioria. Fica a dica para uma reflexão e um debate com mais conteúdo sobre o assunto.

 


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