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Treinadores lutam por Lei Caio Jr. e reclamam da relação com os clubes
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Alexandre Praetzel

Treinadores de futebol estão mobilizados para a aprovação da Lei Caio Júnior, no Congresso Nacional. A categoria quer que contratos de trabalhos de treinadores, preparadores físicos e outras funções, sejam registrados na CBF e Federações Estaduais. O projeto já foi aprovado pelas Comissões de Esportes e do Trabalho e encaminhado para a Comissão de Constituição e Justiça, antes de ser votado na Câmara, em Brasília. A nomeação da Lei é uma homenagem a Caio Júnior, falecido no acidente aéreo, que vitimou a delegação da Chapecoense, no final de novembro de 2016.

O blog entrevistou o ex-jogador e atual técnico, Zé Mário Barros, um dos líderes do movimento e do grupo de treinadores. Leia abaixo.

Como está o movimento para estabelecer a profissão de técnico de futebol?

“De uma hora para outra, os treinadores parece que acordaram. Temos um grupo no Zap que está muito interessado e nos comunicamos toda hora. O movimento cresceu bastante”

Situação dos profissionais no Brasil

“Estamos trabalhando por resultados. Isso não é bom para o desenvolvimento do futebol brasileiro. Três resultados negativos muda tudo dentro do clube. Isso faz com que os treinadores de todas as categorias trabalhem por resultados. Na base, isso traz consequências gravíssimas. Não se forma mais homens e atletas, apenas jogadores de futebol”.

Há muita gente despreparada e qualquer um pode virar treinador?

“Sim, temos muita gente despreparada trabalhando no futebol. Desde treinadores até o pessoal da imprensa. Estão afastando os ex-jogadores de uma função importante na base. Experiência dentro do campo vale muito na base. Acredito que o ex-jogador, junto com um preparador físico, seja bem interessante trabalhando com os meninos. Um cuida do corpo outro ensina como jogar futebol. Vejo muita gente querendo imitar os europeus. Os treinos deles só criam Iniestas, Xavis, etc. Não criam Neymar, Messi e jogadores que decidam as partidas. Veja há quanto tempo Portugal, França, Alemanha e Inglaterra levam para fabricar jogador que decida a partida. O Brasil e a Argentina fabricam esse tipo de jogador em menos tempo. Portanto, não precisamos ir para Europa aprender nada. Assistirmos os jogos pela TV, já nos dá muita bagagem para vermos o desenvolvimento do futebol. Até porque ninguém lá na Europa abre as portas para você participar dos treinamentos diretamente, das preleções e nem do clube. É tudo superficial que pela TV ou pelo Youtube, você fica sabendo as mesmas coisas”.

A classe é muito desunida e isso atrapalha a função?

“Qual a classe que é e unida no Brasil? Talvez os metalúrgicos. Onde existe briga pelo mercado é difícil ser unido. Temos alguns treinadores profissionais que se entregam a uma causa pelos demais. Como falei acima, hoje temos um grupo que está acima da média, se comprometendo com a classe. Quem mais atrapalha a função do treinador é o dirigente amador. O futebol não comporta mais esse tipo de direção. Tem que ser profissional. Chegar no clube de manhã e só sair à noite. Ter salário de administrador e responder pelas trapalhadas realizadas, mas para isso os estatutos dos clubes devem mudar”.

Como ter uma boa relação com os clubes de futebol hoje?

“A relação é tumultuada porque eles não são profissionais. Querem resultados imediatos, sem planejamento e sem traçar objetivos. O futebol não é ciência exata. São mais de 50 pessoas para um treinador comandar e para isso tem que conhecê-los bem. Como em um mês, dois ou até três meses podemos conhecer um grupo de 50 pessoas? Quando a imprensa diz que o treinador precisa se reciclar na Europa, acho que deveriam mandar os dirigentes para lá”.

Quais as principais dificuldades e vantagens em transformar a função numa profissão estabelecida por lei?

“Nós já somos reconhecidos por lei, desde 1993. Existe a nossa lei, que não é cumprida. Ela diz que a função do treinador de futebol tem a “finalidade de treinar atletas de futebol profissional ou amador, ministrando-lhes técnicas e regras de futebol, com o objetivo de assegurar-lhes conhecimentos táticos e técnicos suficientes para a prática desse esporte”. Existe alguma coisa falando de preparação física? Então porque o Conselho Federal de Educação Física quer se meter e dizer que só professor de educação física pode ser treinador? Estão de olho no salário do treinador. Só isso. Hoje queremos fazer acréscimos nessa lei e colocá-la em vigor definitivamente. Queremos acrescentar os auxiliares técnicos e treinadores de goleiros, queremos um contrato mínimo de seis meses, direito de arena, porque somos parte do espetáculo, queremos que o contrato seja registrado na CBF, como o dos jogadores, até porque isso já está na lei em vigor, desde 1993. Queremos que um novo treinador só possa assumir depois que o que está saindo der quitação de tudo devido e algumas coisas normais como em todas as categorias de trabalhadores”.

Qual a média salarial de um técnico hoje no Brasil?

“Isso é muito difícil de calcular até porque 80% dos treinadores não têm contrato assinado. Também como os jogadores profissionais, quando falamos em salários, pensamos só nos grandes jogadores e esquecemos que apenas 5% dos jogadores ganham acima de 20 salários mínimos e que 80% ganham abaixo de três salários mínimos. Essa regra pode ser usada também para os treinadores”.


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