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Arquivo : Michael Beale

Ex-auxiliar de Ceni critica Leco e diz que trocas no time motivaram saída
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Alexandre Praetzel

Michael Beale chegou ao São Paulo, como auxiliar de Rogério Ceni. O novo treinador do time queria trazer trabalhos e métodos diferentes aos treinamentos, com a chegada de um profissional europeu. Oito meses depois, Beale pediu demissão, antes da dispensa de Rogério Ceni. Em entrevista ao blog, Michael Beale detalhou os motivos da sua saída, criticando a gestão do presidente Leco e a falta de planejamento no clube. Confira a seguir.

Qual a causa principal da tua saída? É verdade que você teve divergências de idéias com Pinotti sobre a venda de jogadores?
“Não. Eu nunca tive nenhuma comunicação direta com Vinicius, sobre jogadores. Rogério foi a pessoa que falou com os diretores na compra e venda de jogadores. Minha frustração foi que tivemos muitas mudanças de jogadores. Foi muito difícil construir uma equipe. Mas eu não discuti ou entrei em desacordo com alguém no clube. Eles tomaram decisões que eu não pensei que eram boas para a equipe e não permitia qualquer planejamento de longo prazo. Então eu pedi para sair. Se você olhar para Grêmio ou Corinthians – eles não mudam e eles podem construir uma equipe. O São Paulo tem bons jogadores, mas não uma equipe, porque o elenco muda com muita frequência”.

Qual foi a principal mudança que houve do projeto inicial para aquele que você desistiu? Você pensou em sair em março e desistiu pelo Rogério?
“Em março, tive uma decisão a fazer porque tive uma excelente oferta para retornar à Inglaterra. Mas, naquele momento tivemos um início muito forte com apenas uma derrota em 10 jogos. Nós mudamos o estilo de jogo da temporada anterior e fomos agressivos em nossos objetivos marcantes. Minha preocupação era apenas na organização no clube e não havia nenhum planejamento claro a longo prazo. Eu não estava acostumado com isso. O plano para o time e o negócio não estavam vinculados tão próximos quanto deveriam. Mas, eu vim ao Brasil para trabalhar em um ótimo clube, então naquele momento eu esperava ajudar para mudar as coisas. Os jogadores estavam muito motivados e Rogério estava funcionando bem”.

Como europeu, valeu a pena ter trabalhado num grande clube do Brasil ou estamos muito atrasados em relação à Europa?
“Foi um prazer trabalhar no Brasil. É o país que é amado em todo o mundo por causa do futebol. Foi uma experiência excelente para mim pessoalmente. Sinto falta dos jogadores e comissários na Barra Funda. Meu português melhorou especialmente em palavras específicas de futebol e tive um bom relacionamento com todos os que trabalhavam na equipe. A organização de clubes no Brasil é muito diferente da Europa e o horário do jogo está muito congestionado. Essas coisas não ajudam o desenvolvimento do campeonato brasileiro. Mas eu gostei de tudo e espero voltar e trabalhar mais no Brasil no futuro. O potencial para mudar e desenvolver o futebol é enorme. Os jogadores jovens são excelentes para trabalhar”.

É verdade que antes do jogo contra o Flamengo, a diretoria pediu para não escalar o Cueva por que o jogador estava próximo de ser negociado?
“Saí na sexta-feira e não estava no treino no sábado. Eu acho que isso não é verdade. Cueva sempre quis jogar e é uma pessoa muito boa no centro de treinamento. Ele tem personalidade, que é importante. Não creio que o Pinotti solicitasse isso a Rogerio. A equipe já havia perdido Thiago Mendes para esse jogo”.

Rogério Ceni será um bom treinador, na tua opinião? O estilo de trabalho dele te lembra qual profissional?
“Na minha experiência dentro do São Paulo, o trabalho de técnico foi o mais difícil que eu poderia imaginar no futebol. Em 34 jogos (antes de sair), vendemos 180 milhões em jogadores, tivemos tantas mudanças no elenco e também trouxemos sete jogadores da base para jogar pela primeira vez na equipe principal. Nas semanas internacionais, também perdemos grandes jogadores por dois ou três jogos por vez. Então, acho que julgar Rogério nesses 34 jogos com tantas coisas instáveis ​​não é correto. Ele é um treinador que gosta de estar no campo com os jogadores. Ele acredita em dar oportunidades aos jovens jogadores. Ele queria desenvolver um estilo de jogo mais próximo dos grandes times da Europa. Creio que em um trabalho diferente ele vai fazer um grande sucesso. O São Paulo não foi um clube fácil para o técnico – a história mostra que o treinador muda muito nos últimos oito anos”.

O dia-a-dia dos treinos foi respeitado pelos atletas ou houve reclamações internas com os métodos adotados? 
“Não vi nenhum jogador infeliz. No último mês, eu via os grandes jogadores frustrados com os outros grandes jogadores saindo. Isso é natural e aconteceria em qualquer equipe. Se você quer ganhar, você precisa construir uma “espinha” forte para a equipe”.

Voltarias a trabalhar no futebol brasileiro ou seguiria com o Rogério em novos desafios, dentro ou fora do Brasil?
“Sim. Estou concentrado nos bons momentos. Gostei de viver no Brasil e as pessoas são muito amigáveis. Se o projeto é bom e tem um plano de longo prazo. Então eu gostaria de voltar e trabalhar novamente no Brasil”.

Como você define a gestão e o presidente Leco?
“Uma pergunta difícil de responder porque não quero criar nenhum drama. O São Paulo é um ótimo clube e estou orgulhoso de trabalhar lá. Eu só desejo sucesso no futuro. Eu não tenho um relacionamento com ele. bom ou mau. Eu acho que ele quer o melhor para o SPFC. Ele é um fã da equipe. Mas não está funcionando para ele neste momento. Os fatos não mentem. Muitos jogadores saem e chegam sem um plano que os fãs entendam. Não apenas este ano. Então suas palavras sobre dar ao treinador “todas as condições para trabalhar” são falsas com base em fatos. Eu acho que o maior erro é não dar clareza ao plano para o clube. Para dar aos fãs a honestidade na direção do clube financeiramente e no campo. Ele perdeu uma grande oportunidade com Rogério para mudar a direção. Mas eu espero que ele possa ter sucesso. Dorival é um treinador muito bom e quero sucesso para as pessoas dentro do clube e torcedores”.

Pintado vai comandar o São Paulo, domingo, contra o Santos. Dorival Jr. assume o cargo, segunda-feira, para estrear diante do Atlético-GO, quinta-feira, no Morumbi.


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