Emily Lima nega privilégios a Marta e espera evolução no futebol feminino
Alexandre Praetzel
Emily Lima será a primeira mulher a comandar a Seleção Brasileira de futebol feminino. Aos 36 anos, recebeu o convite de Marco Aurélio Cunha, também superintendente do São Paulo, e foi confirmada depois pelo presidente Marco Polo Del Nero. Na entrevista exclusiva ao blog, Emily falou sobre a realidade do esporte no Brasil, a relação com Marta e as chances de manter uma seleção permanente. Leia abaixo.
Desafio como técnica
“É um grande desafio. Falar sobre futebol feminino no nosso país, já é um grande desafio. Recebo da melhor maneira possível. Eu espero, eu e toda comissão técnica fazer o que nós estamos planejando, colocar em prática e fazer com que elas entendam. Fazer uma apresentação muito prévia nesse torneio para que elas entendam o que vai ser, durante esses quatro anos. Então, isso para mim é o mais importante hoje”.
Machismo por ser a primeira mulher como técnica do feminino
“Eu acho que não. Estou recebendo muito apoio de todo mundo. Só tenho a agradecer isso. Está sendo uma coisa muito rápida na minha vida. Durante seis anos, consegui chegar à seleção. Acho que a cobrança vai vir de um resultado não muito positivo. Aí pode vir a cobrança e até o preconceito. Ah, tá vendo, é uma mulher e olha o que aconteceu. Então, já estou me preparando para isso também, mas estou muito confiante no que a gente pode fazer de diferente na seleção”.
Seleção Brasileira permanente
“É uma pergunta que sempre fazem, mas é um passo à frente que a gente ainda tem que discutir. Não foi nada definido ainda e vou ter aguardar junto ao presidente para definir o que vai ser feito”.
Marta
“Eu procuro trabalhar com todas as atletas, igual. Eu acho que o tratamento tem que ser igual. É claro que dentro de campo, a gente vai ter que procurar fazer com que ela resolva os problemas, pelo que ela conquistou durante a carreira. Então, é aproveitar a Marta da melhor maneira possível dentro de campo. Claro, fora de campo as coisas vão fluir naturalmente, as conversas, enfim, eu vou ter esse primeiro contato e sentir o que elas querem também. O que eu acredito pelo que eu conheço do futebol feminino e eu as conheço também do meio, é o sonhado ouro olímpico e até o campeonato Mundial. Então, a gente vai ter que andar juntas. Se a gente andar na contramão, as coisas não vão caminhar do jeito que eu quero e elas querem e o que a modalidade quer. A gente precisa ver se realmente é a medalha de ouro que está faltando para que as coisas aconteçam. Sempre falar, está faltando a medalha de ouro, então vamos em busca disso para a modalidade dar um salto”.
CBF e o apoio da mídia
“Eu não sei te dizer se a CBF está fazendo esse trabalho. Eu só sei te dizer que desde 2013, quando eu assumi a categoria de base da CBF, eles deram todo o respaldo e apoio para que eu pudesse trabalhar, isso não é diferente com a Sub-20 e com a adulta. Essa seleção permanente eu nunca tinha visto, enquanto eu me conheço por gente no futebol feminino. A CBF sempre deu apoio, só que falta os clubes também ajudarem a gente. Porque às vezes a CBF pode ajudar até um certo ponto. Posso até citar o que a Conmebol está fazendo. Acho até que é uma idéia que a CBF pode pensar em fazer. Obrigar as equipes que vão disputar a Libertadores masculina, também tenham equipe feminina. Isso pode ser algo que a CBF pense e fale. Poxa, as equipes que disputarem a Série A do Campeonato Brasileiro, também tenham que disputar com o futebol feminino. Ter uma equipe feminina. É o que eu sempre digo. Tem que ser aos poucos, os passos tem que ser firmes, porque pode ser que a CBF tome uma decisão dessas e dê tudo errado. Então, isso é um ponto que eles podem estar pensando hoje e que a gente tem que aproveitar”.
Marco Aurélio Cunha continua no futebol feminino
“A primeira ligação, sim, foi dele. Pelas conversas, pelo que eu vi, o meu nome chegou ao presidente e ele bateu o martelo. Claro, eles tiveram reuniões, ele e o Marco Aurélio, enfim. Mas eu acredito que foi o presidente que bateu mesmo o martelo. Ainda penso até hoje como chegou o meu nome para ele ter essa certeza, que era o meu momento. O Marco Aurélio continua. Nós precisamos dele dentro da CBF”.
Seleção masculina é um espelho ou não
“Com certeza, eu acredito que nós temos que ouvir as pessoas que estão no ramo, há muito mais tempo que a gente. Eu e toda comissão, teremos o nosso modelo. A gente não vai copiar. Nós temos que criar algo diferente para o futebol feminino, mas tudo que for agregar e eu puder absorver do Tite, vou fazer isso, com certeza”.
Calendário é utopia
“Não digo utopia. Hoje, não vejo isso com muita clareza, mas a CBF está modificando o calendário dela. Tem um outro formato hoje de campeonato brasileiro. Então, a gente precisa dar continuidade no trabalho e eles fazendo o trabalho deles. A gente está pedindo algumas mudanças, que eles estão atendendo. O grupo do comitê de reformas fez alguns pedidos, foram aprovados e sendo colocados em prática para 2017, no campeonato brasileiro. Então, a gente tem que continuar trabalhando e levar idéias para que eles possam nos atender e melhorar a modalidade no nosso país”.
Emily de destacou como técnica no São José dos Campos, a partir de 2013. Seu primeiro trabalho com a seleção será o Torneio Internacional, em Manaus, no mês de dezembro. O Brasil terá Rússia, Itália e Costa Rica como adversárias.