Caio Jr. sonha com a S.Americana e está pronto para qualquer time do mundo
Alexandre Praetzel
A Chapecoense começa a decidir uma vaga na final da Copa Sul-Americana, nesta quarta-feira, contra o San Lorenzo, em Buenos Aires. O técnico Caio Jr. conversou com o blog com exclusividade sobre a tentativa do título histórico, a situação dos técnicos brasileiros e sua preparação para treinar qualquer equipe do futebol mundial. Acompanhem abaixo.
Chapecoense tem time para ganhar a Sul-Americana
“A grande vantagem deste grupo que eu assumi, é que esses jogadores já tiveram uma experiência muito importante, em 2015, caindo nas quartas-de-final para o River Plate-ARG, ganhando uma partida deles. Então, isso gerou muita bagagem, culminando com a eliminação do Independiente-ARG, um time fortíssimo este ano. Empatamos com eles e ganhamos nos pênaltis, em Chapecó. Agora, passamos pelo Júnior Barranquilha da Colômbia. Estamos provando dentro do campo. Óbvio que o San Lorenzo é uma equipe forte, mas todas essas experiências e o fato de jogar o segundo confronto em casa, nos credencia sim para irmos à final. Eu acredito muito nisso”.
Modelo de jogo e trabalho
“Trabalhei praticamente ao longo deste campeonato e nas últimas equipes que dirigi, num 4-2-3-1 ou 4-1-4-1. São os sistemas mais modernos, mais atualizados, onde você tem variações táticas em função dos jogadores que estão à disposição. São realmente esses os modelos. É um modelo de trabalho moderno, atualizado, trabalho sempre com uma comissão técnica de alto nível, que engloba todas as funções. A função do analista é fundamental. Trabalho muito com vídeo, as edições do adversário da nossa equipe para que você consiga fazer com que o jogador entenda visualmente a evolução do time, o acerto e também o adversário. A fisiologia e a psicologia e todas as áreas importantes do futebol, eu uso muito. Acredito que nesses últimos dez anos, evoluí muito. Há dois anos, acompanhei o Ancelotti no Real Madrid, por uma semana. Isso foi importante para ver que eu estava no caminho certo, com uma linha de trabalho. Acho que o Guardiola tem uma linha também que me chama muita atenção e sigo algumas idéias, principalmente, em relação aos jogos reduzidos, que você consegue fazer o principal no futebol moderno. Perdeu a bola, pressiona. Ganhou a bola, abre. Cria uma amplitude para que a equipe dificulte para o adversário marcar. São dois pontos principais que me baseio nos treinamentos. Sempre com treinamentos voltados para o desenho da equipe e objetivos práticos onde os jogadores tenham satisfação e prazer em trabalhar. Não poderia estar melhor. Eu realmente me sinto no melhor momento da minha carreira”.
Passagem pelo exterior trouxe algo diferente
“Claro, sem dúvida. Aprendi muito no exterior. Foram ao todo, nestes últimos dez anos, mais de cinco anos e meio trabalhando em países diferentes. No Japão, aprendi muito a organização do trabalho com os japoneses. Ali, abri muito minha mente em relação a isso. Eles são inigualáveis em termos de organização, disciplina no trabalho. Depois, passei pelo Qatar. Ganhei três títulos no Al Gharafa. Convivi com vários treinadores estrangeiros de diferentes países. Troquei muitas idéias e isso me abriu outros caminhos também. Nos Emirados Árabes, duas passagens pelo Al Jhazira e Shabab, também fui campeão nas duas equipes. Sou considerado um treinador muito respeitado no mundo árabe. Foram três clubes diferentes e cinco títulos. Meu mercado lá é de alto nível. Foram três clubes grandes e está sempre aberto com a possibilidade de eu voltar. A relação com treinadores europeus e asiáticos, onde você troca idéias, observa treinamentos, observa idéias de jogo, conceitos de trabalho em que você sempre aprende alguma coisa e evolui com certeza. Foram experiências fantásticas na minha vida. Isso é o mais importante”.
Contra técnicos estrangeiros no Brasil
“Pelo contrário. Sou totalmente a favor. Eu mesmo fui treinador em três países diferentes e fui jogador em Portugal. Sempre fui muito bem tratado. Acho que é salutar, é importante essa troca de idéias e informações. A gente vê como é difícil ser treinador no Brasil. Os que passaram por aqui tiveram muitas dificuldades. Não conseguiram se firmar. Isso valoriza mais os treinadores brasileiros”.
Momento dos técnicos brasileiros
“A Copa do Mundo, principalmente o jogo contra a Alemanha, gerou uma situação muito negativa. Eu estava fora do país, naquele momento, e senti claramente isso. Gerou uma desconfiança, uma imagem que não é a real. Foi apenas um jogo, uma situação pontual, mas refletiu muito no mercado. A maioria dos treinadores que estavam fora do país, voltou. Inclusive, nos Emirados, onde eu estava, não tem nenhum treinador brasileiro trabalhando, o que é ruim. Muito em função dessa situação, que já está mudando. Acho que com a chegada do Tite à seleção, a imagem já mudou completamente. Conquistamos a Olimpíada, algo muito positivo também. Vejo também uma geração de treinadores muito boa. Modernos, atualizados. O que nós precisamos é de formação. A CBF agora tem uma certa preocupação com cursos, mas não tem como comparar à formação dos europeus, que é uma obrigatoriedade de dois anos. Eu mesmo fiz o curso principal da Ásia, em Dubai, com instrutores ingleses e alemães. Me deu uma possibilidade de evoluir, aprender. Acho que é muito importante a formação. Os que estão começando deveriam ter uma obrigatoriedade de alguns anos, de ciclos, para que você chegue a uma primeira divisão. O grande problema do Brasil é que qualquer pessoa ou ex-jogador pode ser treinador da noite para o dia. Isso é o nosso grande problema”.
Perdeu espaço nos clubes grandes ou não
“Na verdade, minhas passagens pelos clubes grandes foram ótimas no Brasil. Como não aconteceu um título, talvez não tenham sido lembradas. Pelo Flamengo, eu fiquei em quinto lugar no Brasileiro. Foi uma temporada espetacular. É só você pegar os últimos dez anos e ver quantas vezes o Flamengo ficou entre os cinco primeiros. No Botafogo, ficamos entre os quatro primeiros o campeonato inteiro e se criou uma expectativa acima da média. Montei uma equipe que no ano seguinte deram sequência com o Oswaldo Oliveira e fizeram outro Brasileiro maravilhoso. Foram campeões carioca e classificaram para a Libertadores. Vários jogadores foram para a seleção brasileira com o meu comando. Até hoje sou lembrado com muito carinho por torcedores do Botafogo e Flamengo. No Palmeiras, foi meu segundo trabalho, depois de levar o Paraná Clube à Libertadores. O clube estava numa situação financeira terrível. Não contratamos praticamente ninguém de renome. Ficamos em segundo lugar uma grande parte do campeonato. Na reta final, perdi o Valdívia e não conseguimos a classificação para a Libertadores, mesmo sempre no grupo de cima. Foram trabalhos de alto nível e que eu me orgulho muito. Obviamente, eu evoluí muito mais nesses últimos dez anos e me sinto muito mais preparado para dirigir qualquer equipe do Brasil e do mundo. É o meu melhor momento. Assim como estou na Chapecoense com muito orgulho, posso escolher onde trabalhar por tudo o que eu conquistei, financeiramente. Tenho esse orgulho depois de tanto trabalho e dedicação. Escolhi a Chapecoense porque sabia que era um clube sério, organizado e poderia dar certo ao meu perfil e minha maneira de trabalhar. Espero que eu conquiste os objetivos finais que ainda não conseguimos. Tentar a melhor colocação da história do clube no Brasileiro e chegar à final da Sul-Americana. Realmente é um sonho e temos a possibilidade disso”.
2017
“Só vou pensar em 2017, a partir de dezembro, quando terminar a temporada. Minha cabeça está em terminar a temporada da melhor maneira possível com a Chapecoense. Aprendi que no futebol as coisas acontecem ao natural. O importante é se dedicar e dar o máximo, no momento que você está vivendo e trabalhando num clube. É isso que estou fazendo na Chapecoense e vou fazer até o meu último dia de trabalho nesse ano”.
Caio Jr. está com 51 anos. Seu principal título no futebol brasileiro é o campeonato baiano de 2013, com o Vitória. Na Série A, a Chapecoense é 11ª colocada com 43 pontos e permanecerá mais um ano na primeira divisão.