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Quanto valem amistosos de Santos e Palmeiras? Especialista defende ideia

Alexandre Praetzel

Santos e Palmeiras estão aproveitando a parada para a Copa do Mundo, para disputar amistosos no exterior. O Palmeiras já fará seu segundo jogo, nesta quarta-feira, contra o Independiente Medellín, na Cidade do Panamá. Ainda terá mais um jogo na Costa Rica, antes de retornar ao Brasil. O Santos está viajando para dois confrontos com os mexicanos Monterrey e Querétaro. Algo que é difícil fazer atualmente, com o calendário brasileiro entupido de jogos.

Nas décadas de 60, 70, 80 e 90, times brasileiros eram convidados e recebidos com pompas e circunstâncias, em grandes torneios internacionais. O próprio Santos se abriu para o mundo, na era Pelé. Hoje, temos a Flórida Cup, como um torneio de pré-temporada, com poucos resultados técnicos. Antigamente, torneios europeus tradicionais como Tereza Herrera, Ramón de Carranza e Juan Gamper, tinham presenças constantes de grandes equipes brasileiras. Hoje, isso acabou.

O blog conversou com Danyel Braga, diretor da CSM Golden Goal, empresa especializada em entretenimento e gestão e marketing esportivo, a respeito do assunto. Confira.

Com a globalização, deixou de ser importante excursionar?

Em relação à parte comercial e de presença de marca dos clubes brasileiros no exterior, não deixou de ser importante. Naturalmente, a internet e o avanço nas telecomunicações aumentaram a capilaridade e facilidade para se chegar em diversos mercados ao mesmo tempo, mas estar presente fisicamente é algo estratégico, caso algum clube queira conquistar algum novo mercado em específico. Diferentemente dos principais clubes europeus que já possuem marcas reconhecidas globalmente e por consequência visibilidade e interesse da mídia, os clubes brasileiros precisam ainda construir essa marca no exterior. Garantir uma maior proximidade do seu público alvo por meio de amistosos, pode ser uma estratégia para inicio da construção de uma relação com potenciais novos torcedores e consumidores.

Com o calendário brasileiro, essa alternativa não existirá mais?

O fato do calendário europeu ter a pré-temporada acontecendo em meses diferentes do calendário brasileiro certamente não ajuda, mas também não inviabiliza excursões internacionais. Caso algum clube brasileiro tenha como objetivo conquistar torcedores no mercado sul-americano, por exemplo, o calendário atual tem pouco impacto.

O quanto é fundamental para os brasileiros participarem de torneios e amistosos?

Depende do objetivo e do momento do clube. Se os clubes brasileiros almejam a longo prazo serem competitivos em termos de marca e resultados técnicos com os grandes clubes europeus, o primeiro passo é estar entre eles. Naturalmente a parte técnica é algo que não pode ser deixada de lado, uma sequência de torneios amistosos não pode prejudicar fisicamente os jogadores. Do ponto de vista de conquista de novos torcedores, criação de reputação da sua marca no exterior e consequentemente geração de novas receitas em dólar ou euro, esses torneios podem ser considerados relevantes. Há de se lembrar que os clubes brasileiros sempre vão competir com o mercado internacional quando se trata de compra e venda de jogadores. O real é naturalmente uma moeda desvalorizada, os clubes brasileiros sempre terão dificuldades de manter ou contratar grandes jogadores, e isso significa que receitas em moedas estrangeiras servem para diminuir esse risco e aumentar a competitividade e poder de compra.

Se ganha mais com exposição do que dinheiro?

A participação em torneios e amistosos internacionais pode oferecer os dois resultados, receitas de curto prazo pela participação nos torneios e construção de marca a médio e longo prazo. A longo prazo a construção de marca em outros mercados poderá gerar novas fontes de receitas aos clubes, caso exista o interesse e uma estratégia de expansão internacional. No caso de amistosos internacionais, se o objetivo é ampliar o potencial de receitas a longo prazo, o primeiro passo é que os torcedores locais te conheçam, depois desenvolvam uma simpatia pelo clube e posteriormente tenham interesse em consumir o seu produto. É um processo de construção de marca de médio e longo prazo, que precisa ir além do amistoso em si, para ser bem sucedido. O amistoso é um momento de consumo, o ponto auge da relação de proximidade com esse torcedor, mas após definir o mercado alvo, a estratégia de comunicação começa meses antes da partida a ser realizada e deve continuar depois.  Esse processo de construção de marca é importante para desenvolver uma relação duradoura e não apenas de maneira “extrativista”. No mundo do futebol isso é algo que apenas os clubes europeus conseguem fazer. A partir do momento que o clube passa a ter uma marca forte e reconhecida internacionalmente, um novo mercado consumidor se abre para ser explorado, com receitas como patrocínios, diretos de TV, sócio-torcedor, licenciamento e etc. O Barcelona, por exemplo, possui mais de sete patrocinadores de empresas de bancos diferentes, sua marca é tão reconhecida e valorizada globalmente, que consegue comercializar cotas regionais de patrocínios para o mesmo segmento, com exclusividade apenas para mercados específicos.

O Palmeiras também tratou os jogos no Panamá como uma atividade social, em razão da pobreza e criminalidade na região de Colón, onde acontecem os amistosos. O clube só recebeu pelas despesas de hospedagens e passagens aéreas, assim como o Santos, na viagem ao México.