Adilson Batista: “Cometi erros. Fiz o serviço sujo no Corinthians em 2010”
Alexandre Praetzel
Adilson Batista surgiu como um dos bons treinadores do futebol brasileiro. Ex-jogador de qualidade e vencedor, Adilson perdeu um pouco de espaço no mercado, depois de algumas escolhas erradas. Seu currículo mostra trabalhos em grandes clubes como Grêmio, Cruzeiro, Corinthians, Santos, São Paulo e Vasco. Se destacou no Cruzeiro, com o vice-campeonato da Libertadores, em 2009, e dois títulos de campeão mineiro. Em entrevista exclusiva ao blog, Adilson avalia o momento dos treinadores brasileiros, os critérios para aceitar um convite e a disputa por uma vaga. Acompanhe a seguir.
Por que tu estás fora do mercado?
Primeiro, opção. Fazendo cursos, media training, coaching, liderança, gestão, curso na Universidade do Futebol. Fazendo licença A, Terminal Pro. Viajando também. Fui para vários países. Fui para Flórida Cup observar times da Alemanha. Agradeci alguns convites, quase acertei com alguns clubes. Às vezes, acontece de você ficar parado por opção. Já cometi erros e não quero repetí-los.
Que erros foram esses?
Vários. Assumir clubes em meio à temporada, com elencos diferentes do meu pensamento, em anos de eleições. Ir para clubes com rejeição. Faltou um pouquinho de carga de trabalho, o que pode dar um pouquinho a mais para um grupo que não é acostumado a isso. Erros todos temos e cometemos. Cabe não repetí-los.
Qual a ideia de um trabalho ideal?
Iniciar uma temporada num clube estabilizado com estrutura que tenha qualidade, ambição, bons jogadores. Fiz esse trabalho. Se você pegar, desde quando comecei, subi o Mogi Mirim com 64 equipes, fui campeão. Depois, no América-RN, Avaí, quase subi. Fiz bons trabalhos no Grêmio, Jubilo Iwata do Japão. Fiz ótimo trabalho no Cruzeiro e só lembram do Cruzeiro. No Santos, perdi um jogo e me mandaram embora. As passagens rápidas pelos três grandes de São Paulo, me marcaram negativamente. No Santos, não deixaram eu trabalhar. No São Paulo, empatei demais. Pós Muricy, ninguém teve sequência. No Corinthians, peguei um reflexo. Quem montou aquele time foi o Mano. Eu botei o Ralf, adiantei o Paulinho. Só que eu errei na carga de trabalho num grupo que não tinha característica para aquilo. Minha ideia era um time mais rápido. Eu fiz o serviço sujo no Corinthians. Teve que perder para o Tolima para ver que as coisas estavam dando errado. Trouxe o Thiago Heleno e isso mexeu com alguns que estavam algum tempo ali. Eu queria um zagueiro com maior recuperação e mais rápido. Se fosse hoje, eu não traria.
Qual o critério principal que um dirigente deve ter para contratar um técnico?
São vários. Comando, liderança, trabalho, currículo, experiência, metodologia. Hoje tem que ser multidisciplinar. As vezes, tu nem tens a possibilidade de ser entrevistado. Não tem que ir atrás de torcida. Quem tirou o Mano da Seleção? Foram as redes sociais. Infelizmente, tem muitos dirigentes vendo isso.
Existe união entre os treinadores? A gente vê que a categoria reclama muito, mas um cobiça o cargo do outro.
Eu acho que vejo hoje os profissionais se equiparando, se atualizando, buscando conhecimento, se comunicando, tendo respeito, valorizando a profissão. Não estou vendo ninguém esperando o colega cair. Olha a Chapecoense, vários recusaram. A gente tem que ter um pouco de critério, calma. Quando saí do Cruzeiro, Cuca foi na minha casa. Perguntou várias coisas. Quando assumi o Joinville, perguntei várias coisas para o Hemerson Maria. Hoje está havendo respeito com uma geração nova. Tem 100 profissionais fazendo curso. Em julho, mais 100. Mas só tem 20 nas Séries A, B, C. Fernando Diniz, por exemplo, não está trabalhando. O mercado é restrito mesmo. A gente perdeu um pouco de força lá fora. Pela própria Copa do Mundo. O leste europeu ganhou espaço porque os técnicos são mais baratos. Tem muita gente boa no Brasil. A gente tem que andar junto.
Adilson está com 49 anos. Seu último trabalho foi pelo Joinville, em 2015.