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Dorival considera demissão sem motivos e acredita em recuperação do Santos

UOL Esporte

Dispensado do Santos após dois anos de trabalho no último fim de semana, o técnico Dorival Júnior acredita que conseguiria fazer o clube sair da sequência ruim de resultados que acabou com sua demissão. Em entrevista ao blog, Dorival também afirmou que não vê motivos para sua demissão, destacando seu aproveitamento nos jogos no comando da equipe, e declarou ter tido problemas somente com o argentino Vecchio – questão resolvida e isolada no elenco alvinegro.

Confira a íntegra da conversa:

Alexandre Preatzel: Como defines tua saída do Santos?

Dorival Júnior: Toda saída é traumática em algum sentido, é natural. As pessoas procuram os problemas, procuram todo tipo de situação negativa que de repente possa ter acontecido. Sinceramente, nós só não tivemos bons resultados nesse último momento da equipe. Acredito que depois de dois anos houve sim uma instabilidade, mas ela seria contornada. Já vinha acontecendo. Em todos os momentos que tivemos a equipe toda titular em campo os resultados foram muito bons. Terminamos com um aproveitamento acima até da grande normalidade das equipes, 65% depois de dois anos de clube, sendo vice em duas competições que o Santos não se aproximava há algum tempo. Tendo a possibilidade da disputa de uma final que foi o Paulista e a conquista. Estando na Libertadores já classificado em uma chave dificílima, que tinha três campeões nacionais de seus países. Jogando dois jogos com altitude. Chegamos a um ponto da melhor campanha. A única equipe que mantém a invencibilidade com jogos bem complicados. Copa do brasil passamos de fase. Sou muito realista e bem sincero, não vi motivos, o futebol brasileiro é assim, não dá a possibilidade dos treinadores poderem passar por determinada instabilidade. Exigem sempre resultados e, em um primeiro instante que oscile, as indagações começam, procura-se todo tipo de situação, mas só não tem o principal que é a paciência para que o trabalho fosse reconduzido, corrigido e caminhasse como sempre caminhou. Cito o exemplo do ano passado, começamos o Brasileiro com apenas um ponto a mais. Nos recuperamos e fomos ao vice-campeonato da competição. Não vejo que tenha sido um problema nesse instante. Poderíamos ter resolvido esse problema. O elenco todo nos conhece, temos uma aceitação muito grande com todo o grupo. Existe um respeito muito grande. Não tenho dúvidas que sanaríamos os problemas e engatilharíamos uma sequência como foi ao longo de toda temporada que tivemos aqui.

Praetzel: Houve algum atrito com o grupo de atletas?

Dorival: Dou muita atenção a esse tipo de situação, sempre me preocupei muito. Não foi por acaso que fiquei dois anos. Foi porque nos respeitamos muito e buscamos o respeito de todos e assim foi desde a minha chegada, tanto com os mais jovens quanto com os mais experientes. Tive um único problema com o Emiliano Vecchio, o chamei a minha sala, o afastei dos trabalhos pela postura que vinha tendo e não vinha agradando a mim e aos companheiros. Ele mudou completamente a postura. A partir daí foi reintegrado, já estava reintegrado. Se recuperou, começou a trabalhar com muita determinação. Fora isso não houve situação nenhuma. Não tive problemas em nenhum momento, muito pelo contrário. Ontem, com a nossa saída, de 32 jogadores apenas quatro ou cinco não nos mandaram mensagens ou ligações. Acho que isso mostra o que foi nossa passagem ao longo de dois anos à frente de uma equipe como o Santos.

Praetzel: O que deixas de legado?

Dorival: Muitas coisas positivas aconteceram nesses últimos anos. O Santos saiu de uma equipe brigando por rebaixamento em 2015 para a luta por um título da Copa do Brasil, em seguida a conquista do Paulista. O vice do Brasileiro, a classificação da Libertadores, agora passando de fase. Mas o principal é que nunca abrimos mão de jogarmos futebol com qualidade, vistoso, para frente, ofensivo. Buscando o gol a todo momento com trocas de passes. E foi isso que o Santos mostrou nos últimos dois anos. As pessoas podem contestar uma situação ou outra, ninguém é perfeito. Tudo que alcançamos, o crescimento que a equipe teve, a maneira como os jogadores reagiram à nossa saída agora, porque eles percebiam a evolução que a equipe vinha tendo. O quanto eles cresceram profissionalmente em todos os aspectos. Fico feliz que isso tenha acontecido e o maior legado é que o Santos saiu de uma equipe contestada, gerando todas dúvidas possíveis, para uma equipe que sempre se manteve em cima em todas as competições que entrou. Esse grupo de jogadores que hoje eu vejo totalmente preparados para que possam chegar à conquista de uma competição de alto nível. Espero que venha a acontecer rapidamente pelo merecimento que esses atletas têm pelo belo trabalho que eles envolveram.

Praetzel: Dirigentes não resistem às pressões em anos eleitorais?

Dorival: Só em anos eleitorais. Não estou citando a diretoria do Santos, muito pelo contrário. O profissionalismo ainda não chegou na gestão esportiva. A grande maioria dos gestores sempre torcedores de seus clubes, influenciados pelo momento da equipe. Acima de tudo, por um conselho que tem 300 pessoas e naturalmente exercem uma pressão muito grande no momento que os resultados não acontecem. Quero deixar bem claro que estou falando no sentido geral, não a diretoria do clube porque tomaram essa decisão nesse instante. Vou continuar achando que enquanto não houver uma mudança na forma que os clubes são dirigidos, com profissionais na área, cargo de presidente remunerado, diretor remunerado, que se responsabilizem pelo trabalho, mas acima de tudo também estejam comprometidos com a parte técnica da equipe. Isso é muito importante que aconteça, porque cobra-se o profissionalismo dos atletas, das comissões, mas precisamos que as gestões se modifiquem. Os clubes estão com um modelo completamente falido de gestão.

Praetzel: Quais os teus planos para o momento? Já estás no mercado?

Dorival: Foram dois anos importantes, houve uma resposta positiva em todos os aspectos. Prefiro agora dar uma seguradinha, buscar uma recomposição e voltar a ter uma boa condição em um futuro próximo. Vamos aguardar, estudar um pouquinho, ver o que os clubes estejam apresentando nesse momento. Entender um pouco mais, procurar aprender um pouco mais. Isso é muito importante em um momento como esse para que você alcance uma melhora, se qualifique um pouco mais e volte mais forte ainda.