A arte de execrar ou “endeusar” um jogador no Brasil
Alexandre Praetzel
Uma vez, durante um debate esportivo de rádio, em Porto Alegre, papo vai, papo vem, decretei que um jogador ''não jogava nada''. A frase definitiva ecoou com críticas à minha opinião. Horas mais tarde, refletindo, vi que era um erro, mesmo que considerasse o atleta em questão, um profissional menos qualificado que os demais. E mudei a postura nas análises, em 25 anos de jornalismo esportivo.
Acho que, com o advento das redes sociais e todo mundo com teses, observações e críticas em tempo real, precisamos ser muito mais cautelosos e pacientes. Hoje, uma contratação de um clube é avaliada em oito ou 80. Não existe mais meio termo. O cara chega com expectativa, é tratado como grande reforço e precisa resolver em 90 minutos. Não há mais tolerância, calma e até respeito pelo trabalho. Se fizer um gol e um grande lance, pronto, é um ''monstro'', joga muito, novo craque e tal. Se perde um gol feito, chuta mal ou tem duas ou três atuações ruins, não serve mais. Ficou muito difícil entender tanto totalitarismo. Acredito que a gente deva se transportar para situações parecidas no nosso dia-a-dia. Será que gostaríamos de conceitos iguais ou parecidos? É hora de humildade e critérios nos comentários. Menos julgamentos e mais justiça. Abaixo, cito jogadores execrados e endeusados.
– Borja – chegou agora. Está sendo detonado, com poucas oportunidades e longe do estilo em que jogava na Colômbia. O custo da negociação está determinando se ele é bom ou não, infelizmente;
– Pato – empilhou gols no São Paulo. Sempre teve qualidade, mas foi execrado, após errar uma cobrança de pênalti pelo Corinthians contra o Grêmio, na Copa do Brasil;
– Fred – segue como grande centroavante. Virou ''cone'', depois do fiasco do Brasil, na Copa de 2014. Hoje, seria o 9 de qualquer equipe;
– Casemiro – era chamado de ''mala'' e ''mascarado'' no São Paulo. Em um ano, não servia para o tricolor. Pode ser bicampeão da Champions League pelo Real Madrid, neste fim de semana, como titular absoluto;
– Jonas – foi chamado de o ''pior atacante do mundo'' porque errou um gol. Sempre foi um atacante muito bom. Já foi convocado para a Seleção Brasileira e é destaque do Benfica de Portugal;
– Keirrison – estourou no Coritiba e virou o 'K9″ no Palmeiras. Negociado com o Barcelona, desandou e nunca mais foi o mesmo, rodando por vários clubes. Teve várias lesões e um drama pessoal. Hoje, está no Arouca no Portugal;
– Leandro Damião – encheu os adversários do Inter, com gols marcados e atuações excelentes. Negociado ao Santos por R$ 42 milhões, virou um ''mico'' e foi parar na justiça contra o clube.
Pequenos exemplos de um lado e de outro. Em raríssimas vezes, temos razão no conceito final, mas nos equivocamos com a grande maioria. Fica a dica para uma reflexão e um debate com mais conteúdo sobre o assunto.